A declaração, enviada nesta quarta-feira (3), é uma resposta a respeito da reportagem especial publicada na última segunda-feira (1º) sobre as críticas do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ao Banco Central (BC), que alertou na 261ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que a queda do desemprego e a melhoria da renda da população poderiam causar aumento na inflação.
O Ministério do Trabalho comentou que o posicionamento do BC reflete uma reação típica das elites econômicas brasileiras.
"Pode ser vista como reflexo de uma preocupação de curto prazo, focada nos interesses imediatos do mercado financeiro e na falta de planejamento das empresas para atender a um número mais elevado de consumidores da população brasileira, em detrimento do desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo que beneficiaria toda a sociedade brasileira", diz a nota.
Ainda segundo a pasta, "essa dinâmica destaca a necessidade de políticas econômicas que busquem equilibrar os interesses das elites financeiras com as necessidades mais amplas da população e da economia como um todo", conclui a nota.
A reportagem ouviu especialistas no assunto para esclarecer se, afinal, o aumento da renda do trabalhador e do trabalho é ruim para a economia. Isso porque, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), a média salarial do brasileiro subiu de R$ 2.754 em janeiro de 2022 para R$ 3.078 em janeiro passado, e o desemprego teve o menor nível desde 2014, atingindo 7,4% da população.
Na matéria, os economistas Pedro Faria e Fábio Sobral destacaram problemas nos cálculos do Banco Central para aferir o potencial da economia brasileira. Para Faria, as medições de hiato de produto "não captam a realidade da oferta no Brasil". "Ela [a metodologia] tem um viés muito claro de produzir taxas de juros muito altas."
O primeiro problema na equação é que não se afere o crescimento histórico da economia: "O Brasil cresceu muito pouco na última década. Se o crescimento histórico foi baixo, qualquer crescimento um pouquinho mais acima já é considerado um hiato de produto alto."
Outro problema é não levar em consideração outras parcelas da população. Segundo a mesma pesquisa da PNAD, a taxa de subutilização entre os trabalhadores brasileiros é de 17,3%.
Além disso, para Sobral, o BC não está preocupado em melhorar a qualidade de vida da população. "Aumentar juros só beneficia aos especuladores que detêm a dívida pública brasileira. Só favorece aos setores financeiros, financistas", comentou ele.
Já Faria aponta que o BC possui meta de inflação "muito baixa para uma economia subdesenvolvida", de 3%.
"É importante ter uma meta mais folgada porque hoje somos 17,5% da população subocupada. Uma característica de uma economia subdesenvolvida é o descompasso entre setores", completou Faria.