As relações entre a China e os EUA continuam tensas em questões como o comércio, Taiwan e o mar do Sul da China, bem como a crescente relação de Pequim com Moscou.
Recentemente Pequim havia instado a Casa Branca a não politizar o comércio bilateral e a respeitar as "normas básicas" da economia de mercado.
No último domingo (7), o primeiro-ministro chinês Li Qiang e Yellen disseram que as relações entre os EUA e a China estão se "estabilizando", mas alertaram que uma série de questões continuam em aberto.
"Espera-se que os EUA cumpram as normas básicas da economia de mercado, incluindo a concorrência leal e a cooperação aberta, abstenham-se de transformar questões econômicas e comerciais em questões políticas ou de segurança e vejam a questão da capacidade de produção objetiva e dialeticamente orientada pelo mercado a partir de uma perspectiva global", disse o primeiro-ministro a Yellen durante a reunião.
Em conversa com a Sputnik, a autora e professora do Departamento de Estudos Políticos e diretora do Grupo de Pesquisa em Economia Geopolítica da Universidade de Manitoba, Winnipeg no Canadá, Radhika Desai, falou sobre a relação econômica entre a China e os EUA.
"Os chineses estão salientando que, depois de décadas insistindo nas virtudes do mercado livre e da globalização, os EUA, graças aos seus próprios problemas internos, estão agora sendo forçados a falar sobre proteção, tarifas, política industrial, subsídios e todas aquelas coisas que no passado pediram a outros países que não fizessem", disse Desai, comentando à reunião.
"E a China também está absolutamente certa ao dizer que o que os EUA estão fazendo é transformar questões econômicas e comerciais em questões políticas e de segurança", continuou ela. "Mas acho que por trás disso há outro nível que é totalmente sério", disse a autora. "E isto tem a ver com o fato de que o que a China entende por livre comércio e até mesmo por globalização é algo diferente do que os EUA e a maior parte do Ocidente entendem por isso."
"[...] China adotou uma interpretação de todos estes termos, que é essencialmente modificada por uma consideração ou tendo em vista as necessidades de desenvolvimento dos países do terceiro mundo", afirmou Desai. "Tudo o que a China está fazendo é dizer: 'Deveríamos ter permissão para fazer isso — tomar medidas que impulsionem o desenvolvimento industrial como EUA, Alemanha e Japão fizeram em sua época — caso contrário, não haverá condições de concorrência equitativas'."
Segundo a especialista, as classes dominantes dos EUA e, portanto, o governo dos EUA estão profundamente divididos em relação à China após décadas de dependência de Pequim. A mudança nessa lógica, que faz com que os EUA estejam continuamente obrigados a manter essa relação gera tensões entre eles.
"Por outro lado, outras empresas dos EUA foram ameaçadas pela China, por exemplo, Google, Meta e assim por diante", acrescentou. "Eles querem que os EUA, essencialmente, travem uma guerra contra a China, uma guerra híbrida, uma guerra militar, tudo que é guerra. E, claro, o complexo industrial militar dos EUA tem as suas próprias razões para fazer isso. Então, essencialmente, os EUA estão sendo puxados e empurrados em todas as direções em relação à China e não conseguem realmente produzir uma política coerente", explicou a professora.
De acordo com Desai, tudo o que Yellen conseguiu obter na viagem foi uma garantia de que as portas diplomáticas não vão se fechar e que os canais de diálogo estão mantidos, mas apenas se os EUA quiserem conversar.
Ao comentar as próximas eleições presidenciais dos EUA, no que se referia aos laços econômicos com a China, ela sugere que tanto os republicanos como os democratas devem acabar usando a China como bode expiatório para justificar as dificuldades econômicas que as suas políticas criaram.
"O que estamos vendo é uma situação em que as pessoas comuns estão sofrendo por causa das políticas seguidas pela administração dos EUA, políticas que eram unilaterais [e] a favor das empresas dos EUA, tanto que mimam as empresas dos EUA e elas nem sequer são obrigadas a serem eficientes ou competitivas", explicou ela.
"É por isso que Biden deu continuidade às políticas de Trump e Trump venceu as eleições ao usar a China como bode expiatório. E Biden deu continuidade às suas políticas. Não acho que veremos nada diferente neste momento", concluiu.