Panorama internacional

Guerra irreversível: há 10 anos, Kiev enviou tropas para Donbass e mudou a Ucrânia para sempre

A Ucrânia iniciava há 10 anos uma verdadeira guerra contra a população de Donbass, na época chamada de "Operação Antiterrorista". O historiador Yevgeny Norin, o jornalista Igor Gomolsky, o político Oleg Voloshin e o defensor dos direitos humanos Valentin Rybin explicaram à Sputnik como a situação mudou o país para sempre.
Sputnik
O historiador e pesquisador do conflito ucraniano Yevgeny Norin disse à Sputnik que está convencido de que a operação militar contra o Donbass poderia ter sido evitada, mas, nesse caso, os políticos em Kiev precisariam ter nervos mais fortes.

"Em abril de 2014, para evitar a guerra, era necessário ter nervos extremamente fortes. E também compreender os medos e desejos da parte oposta. Em Kiev, eles não tinham nem uma coisa nem outra", acredita Norin.

Conforme o especialista, naquela época as autoridades em Kiev achavam que os problemas em Donbass não estavam ligados à falta de confiança da população no governo, mas à falta de controle da região. Ao tentar restaurar pela força, as autoridades perderam até os resquícios de confiança.
"Depois dos eventos da Crimeia, as autoridades de Kiev estavam determinadas a vencer alguém, porque acabavam de sofrer humilhações horríveis. E o complexo de medo, sensação de fraqueza e humilhação levou à declaração de uma operação militar", destaca o historiador.
Porém, as autoridades de Kiev não conseguiram restabelecer a ordem e sequer dialogar com os moradores do Donbass, enfatizou à Sputnik o membro do movimento Outra Ucrânia, o ex-deputado Oleg Voloshin.

"Kiev não conseguiu garantir a ordem legal. Não conseguiu dialogar com os habitantes de Donetsk. Como fez, aliás, [Viktor] Yanukovich com os manifestantes em Kiev, pois a princípio ele dialogou com eles, inclusive com mediação internacional", disse Voloshin.

Com isso, o então presidente interino da Ucrânia, Aleksandr Turchinov, que chegou ao poder por um golpe inconstitucional, usou a Carta Magma para acusar a população de Donbass de protestar de forma ilegal, acrescentou o político.
"Os protestos dos habitantes de Donbass foram suprimidos. E a Ucrânia ficou à beira de uma guerra civil. E ela foi efetivamente iniciada", enfatizou Voloshin.
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Tudo começou no Euromaidan

Já advogado e defensor dos direitos humanos ucraniano Valentin Rybin tem uma opinião diferente: acredita que a operação contra o próprio povo foi um desenvolvimento lógico do Euromaidan (onda de protestos que tomou conta do país).
"O ponto sem retorno foi o golpe no Euromaidan. Ficou claro que as pessoas que chegaram ao poder não eram capazes de negociar. Ninguém estava planejando resolver essa crise de forma pacífica e política, e depois ficou claro que só pioraria", opina à Sputnik.
A impossibilidade de evitar o conflito também é mencionada pelo jornalista que nasceu em Donetsk, correspondente especial do jornal Ukraina.ru, Igor Gomolsky.
"Se ela [Euromaidan] não tivesse começado, não haveria governo em Kiev. É preciso entender o que estava acontecendo em Kiev naquela época. Um monte de pessoas armadas, não totalmente adequadas, que passavam todos os dias realizando reuniões e ouvindo relatórios do gabinete de ministros e deputados sobre o trabalho. Além disso, já estava ocorrendo uma entrega gradual de soberania. As forças externas precisavam do conflito", conclui Gomolsky.
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Donbass queria diálogo

A decisão de iniciar uma operação militar tornou impossível qualquer diálogo entre Kiev e o Donbass, diferentemente do que a região esperava, destaca Oleg Voloshin. "No Donbass, havia poucos apoiadores da secessão da Ucrânia, poucos 'separatistas', como eram chamados na época. As pessoas queriam que a Ucrânia fosse diferente. Elas queriam diálogo, mas não foram ouvidas", acredita o político.
Na época, a Ucrânia era considerada um país pacífico, observa Igor Gomolsky, e não eram esperadas ações militares como as que ocorreram.

"Para a maioria das pessoas, a Ucrânia era um país bastante pacífico. Tudo o que acontecia no oeste do país permanecia no oeste do país. E tudo isso acabava apenas na Internet. Portanto, até o último momento as pessoas não acreditavam que o Exército viria e começaria a matar alguém", observa.

Assim como o jornalista, Rybin acredita que havia expectativa de um diálogo pacífico na região. "Em Kiev, e também na Ucrânia Ocidental, havia pessoas que não apoiavam o curso que o governo tomou. Um curso em direção à guerra contra seu próprio povo. No entanto, muitos deles estavam apenas com medo: primeiro, com os eventos no Euromaidan, e depois, com o que Kiev fez em relação ao Donbass", destaca Rybin.
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E Kiev, na tentativa de reduzir Donbass, seguiu o cenário mais catastrófico e cruel, em parte devido ao uso em massa dos batalhões voluntários, acredita Norin. "Os métodos escolhidos por eles apenas agravaram a situação. E não apenas o início da operação, mas também o uso em massa de batalhões voluntários e outros paramilitares", destaca Norin.
Além disso, em 2014 o Exército ucraniano, usado para reprimir protestos em Donbass, era muito pior do que as atuais Forças Armadas, observa Igor Gomolsky.
"A falta de treinamento do Exército ucraniano foi compensada pelo envolvimento, em primeiro lugar, do elemento radical, que estava treinado e pronto para matar, e, em segundo lugar, pelo elemento criminoso, que, em geral, era para qualquer tumulto", finaliza.
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