A Rosoboronexport — a empresa estatal russa responsável pela exportação de equipamentos e serviços relacionados com a defesa — está oferecendo aos países estrangeiros os seus serviços na organização e equipamento completo de unidades aerotransportadas.
"A empresa está pronta para auxiliar na formação de uma estrutura organizacional de unidades aerotransportadas, estabelecendo a infraestrutura terrestre necessária, equipando as unidades com todos os tipos de equipamentos e armas, bem como treinamento de pessoal militar", disse a Rosoboronexport em comunicado de imprensa esta semana.
"Os esforços da Rosoboronexport resultarão no surgimento de um ramo totalmente operacional das forças armadas do cliente estrangeiro", promete a empresa.
"A experiência das modernas operações militares, antiterroristas e de manutenção da paz sugere que as unidades aerotransportadas são as formações táticas mais treinadas [capazes] de atingir rapidamente os objetivos atrás das linhas inimigas e na vanguarda da zona de combate", disse o diretor-geral da Rosoboronexport, Aleksandr Mikheev. "Elas podem realizar ataques com sucesso para derrotar o inimigo, capturar e manter territórios e instalações críticas", completou.
Mikheev esclareceu que a proposta da Rosoboronexport se aplica a "países amigos" e que vê "um grande potencial para a sua oferta na região Ásia-Pacífico, Oriente Médio e África".
O comunicado de imprensa da Rosoboronexport listou alguns dos "equipamentos militares de última geração" que as empresas de defesa russas oferecem para equipes aerotransportadas, incluindo:
o veículo de assalto aerotransportado BMD-4M;
o exclusivo canhão antitanque Sprut 2S25 de 125 mm (ostentando o mesmo canhão principal normalmente reservado para tanques de batalha principais, como o T-90MS);
o veículo blindado de transporte de pessoal BTR-MDM;
o veículo protegido contra emboscadas resistente a minas Typhoon-K;
o veículo de reconhecimento técnico MTR;
uma variedade de paraquedas, incluindo Dalnolet, Tandem-400, Arbalet-2, Berkut-2, os paraquedas de assalto D-6 e D-10, o sistema de paraquedas automatizado APSDG-250 e o pesado MK-350-12/12M e paraquedas da série PBS – que podem transportar veículos de assalto pesando até 20 toneladas;
para carregar todo esse equipamento, a Rosoboronexport está oferecendo o avião de transporte estratégico russo Il-76 – especificamente sua variante de exportação modernizada e equipada com sistema de defesa antimísseis – o Il- 76MD-90A(E), que pode transportar até 126 paraquedistas totalmente equipados, três veículos BMD-4M ou BTR-MDM ou dois Spruts, que é robusto o suficiente para decolar e pousar em campos de aviação despreparados e não pavimentados.
A empresa afirma que está pronta para fornecer treinamento a países parceiros e ainda tripulação dinâmica, artilharia e simuladores de direção. Os "experientes instrutores militares russos treinarão futuros paraquedistas nos fundamentos das táticas de guerra aerotransportada, ações em situações de combate, equipamentos e operação de armas [treinamento], levando em consideração as realidades dos conflitos militares modernos, incluindo o uso de meios de reconhecimento não tripulados e sistemas de ataque", promete a Rosoboronexport.
Guerreiros experientes
As unidades de paraquedistas da Rússia são há muito consideradas entre os soldados mais bem treinados e experientes das Forças Armadas russas, com Tropas Aerotransportadas conhecidas como VDV, que desempenharam um papel central em uma série de conflitos do século XX, como as guerras chechenas, o conflito de 2008 com a Geórgia e, a partir de 2022, a crise na Ucrânia, onde efetuaram uma série de operações bem-sucedidas para tomar aeroportos, aeródromos e outras posições estratégicas perto de Kiev. Desde então, as VDV têm se destacado no terreno ao lado do Exército russo regular, combatendo frequentemente nas áreas mais difíceis e perigosas da frente de batalha.
"É preciso dizer que as Tropas Aerotransportadas sempre foram consideradas a elite dos exércitos em todo o mundo, as melhores e mais bem treinadas unidades", disse o jornalista, autor e documentarista Aleksei Borzenko, correspondente veterano em zonas de guerra, incluindo os conflitos na Chechênia e o bombardeio da Iugoslávia pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
"Vamos lembrar por que as pessoas vinham treinar conosco na época soviética. Em primeiro lugar, pela experiência da Grande Guerra pela Pátria [1941-1945], que resultou em um impulso muito significativo para a ciência militar no nosso país. As Tropas Aerotransportadas, tanto naquela época como hoje, eram consideradas forças de elite", conforme expresso em seu lema "Ninguém, a não ser nós!", observou.
"As Tropas Aerotransportadas foram criadas pelo [lendário general do Exército Vermelho] Vasily Margelov, e sua criação viu algumas soluções técnicas muito incomuns, incluindo o lançamento de veículos de combate aerotransportados com tropas a bordo e a entrada imediata na batalha após o pouso", lembrou Borzenko.
A URSS acumulou "ampla experiência" na formação de militares de países amigos nas suas academias, recordou o jornalista, salientando que dezenas de milhares de oficiais de mais de 50 países vieram à União Soviética para obter essa formação. Os países que hoje podem enviar tropas para treinamento são praticamente os mesmos de então, disse Borzenko, com exceção dos países do campo socialista no Leste Europeu.
"Quem pode enviar trainees hoje? Bem, em primeiro lugar, os países de África — as antigas colônias francesas que agora se libertaram das unidades da Legião Estrangeira Francesa e iniciaram um caminho de desenvolvimento independente sem a pressão francesa. Estes países tentarão agora criar os seus próprios exércitos e muito provavelmente enviarão os seus oficiais para treinar conosco", disse o observador.
Outras partes potencialmente interessadas podem incluir países do Oriente Médio, como a Síria e o Egito, bem como na Ásia e na América Latina, acredita Borzenko.
"É preciso dizer que qualquer treinamento militar — e os Estados Unidos também realizam esse treino para os seus exércitos amigos — resulta em países que começam a comprar armas. Foi assim que as armas soviéticas foram vendidas durante o período soviético. E o mesmo interesse está agora sendo demonstrado pelas armas russas", disse Borzenko, acrescentando que a operação militar especial na Ucrânia tem sido uma fonte de atenção considerável por parte dos militares estrangeiros, que acompanharam e estudaram cuidadosamente o conflito e "tentaram ajustar os seus próprias exércitos em conexão com os eventos que estão acontecendo lá", reconheceu o especialista.
As unidades estrangeiras a enviar para a Rússia vão ser treinadas nos campos militares e, no caso das Tropas Aerotransportadas, na Escola Superior de Comando Aerotransportado em Ryazan, e possivelmente em Pskov com a 76ª Divisão de Assalto Aéreo, diz o analista.
Teoria e prática
Todos os trainees vão receber "teoria e prática" de manuseio de armas russas, disse Borzenko, com treinamento baseado na experiência soviética, além de novos desenvolvimentos baseados em avanços na tecnologia. O observador não descarta a possibilidade de instrutores russos darem palestras também no exterior.
"Naturalmente, tal treinamento contribuirá para a formação de um agrupamento, de uma forma ou de outra, de países amigos em relação ao nosso país. Não estamos falando aqui de blocos militares, mas de cooperação, de venda de armas e de outras áreas em que outros países podem nos ajudar", disse o veterano jornalista e correspondente de guerra.
Borzenko está satisfeito por a Rússia estar planejando regressar à prática militar da era soviética de treinar oficiais estrangeiros em grande escala, garantindo que isso servirá como uma "troca mútua de experiências que também é benéfica para nós".