A contrainteligência militar soviética frustrou, durante o verão europeu de 1944, um motim armado preparado por nacionalistas ucranianos que haviam se infiltrado deliberadamente no Exército Vermelho, revela um documento de arquivo desclassificado e publicado pelo Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla em russo) da Rússia na véspera do 81º aniversário da criação da unidade.
Meses antes, as tropas soviéticas libertaram a margem direita do rio Dniepre na Ucrânia das forças de ocupação nazistas e alcançaram a fronteira estatal pré-guerra da URSS. Isso permitiu a mobilização da população local em idade de alistamento, um processo que foi seguido cuidadosamente pela Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN, na sigla em russo) e o Exército Insurreto Ucraniano (UPA, na sigla em russo, ambas organizações extremistas proibidas na Rússia).
Por decreto do governo soviético de 19 de abril de 1943, foi formada a Diretoria Principal de Contrainteligência Smersh. Sua abreviação foi tirada da frase "Morte aos espiões!" ("Smert shpionam!", em russo).
Em 29 de agosto de 1944, Nikolai Selivanovsky (1901-1997), vice-chefe da Diretoria Principal de Contrainteligência Smersh, relatou que, de 1º de abril a 25 de agosto de 1944, sua organização prendeu mais de 4,2 mil pessoas da OUN e do UPA.
"A investigação dos casos de nacionalistas ucranianos presos estabeleceu que uma parte significativa deles, vivendo durante a ocupação alemã nas regiões ocidentais da Ucrânia […], massacrou brutalmente ativistas soviéticos e prisioneiros de guerra, atacando unidades da guerrilha soviética, e conduziu entre a população propaganda inimiga dirigida contra a União Soviética", relatou Selivanovsky.
Esses grupos conduziam agitação antissoviética sob slogans de luta pela "Ucrânia independente"; a criação de grupos insurgentes, "minando a disciplina militar", organizando a deserção de soldados do Exército Vermelho com armas para as gangues da UPA; e cometendo atos terroristas contra oficiais do Exército Vermelho.
'Morte aos espiões!'
Os historiadores dos serviços de inteligência notam que durante a Grande Guerra pela Pátria (parte da Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 22 de junho de 1941 e 9 de maio de 1945, e limitada às hostilidades entre a União Soviética e a Alemanha nazista e seus aliados), a URSS construiu um sistema altamente funcional para combater o reconhecimento e sabotagem inimigos.
Ele teria impedido a interrupção e o conhecimento das operações militares soviéticas por ações dos serviços de inteligência inimigos, e a realização de qualquer ato antissoviético no seio do Exército Vermelho ou em sua retaguarda, como a Alemanha tanto esperava.
Cerimônia de abertura do Memorial aos Defensores da Pátria Caídos e Desaparecidos em Ação nas Frentes da Grande Guerra pela Pátria de 1941-1945 em Mikhailovsk, região de Stavropol, Rússia, foto publicada em 15 de abril de 2023
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Ao contrário das ideias de que a Smersh desempenhava funções punitivas na retaguarda das formações do Exército Vermelho, seus efetivos, além de desempenharem suas funções diretas, também participavam de combates e, em momentos críticos, até mesmo assumiam o comando de companhias e batalhões que perdiam comandantes, conduziam unidades soviéticas para fora do cerco, criavam destacamentos de guerrilha, e chegavam eles próprios a morrer. Sua taxa de mortalidade não era inferior à do Exército.
Os avisos de Selivanovsky a Stalin, em Moscou, sobre as falhas na liderança no front, que ameaçavam a derrota na Batalha de Stalingrado (1942-1943) e um destino catastrófico das tropas soviéticas, fez o líder soviético levar em conta sua opinião e tomar as medidas necessárias. De acordo com os historiadores, esse ato corajoso do vice-chefe da Smersh ajudou a salvar o país de várias maneiras. Em 1946 e 1947, Selivanovsky chefiou toda a contrainteligência militar soviética.