Com a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira, o Exército é responsável por garantir a soberania e a defesa do território nacional. Diferentemente delas, no entanto, o EB atua em frentes mais diversas e, para isso, emprega diferentes programas estratégicos, que vão desde a aquisição de equipamentos ao monitoramento do território.
De acordo com João Gabriel Burmann, professor da UniRitter e pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), as diretrizes desses projetos são organizadas por documentos que guiam a defesa nacional, como o Livro Branco de Defesa Nacional, a Política Nacional de Defesa (PND) e a Estratégia Nacional de Defesa (END). É a partir deles que o EB elabora seus próprios documentos orientadores, como o Plano Estratégico do Exército (PEEx).
Os programas de monitoramento e inteligência
Com dez países na vizinhança, abrigando cinco biomas distintos e com uma extensão aproximada de 17 mil km — o suficiente para ir de Brasília até Cingapura —, a fronteira terrestre do Brasil é uma vasta extensão de terra, e cabe ao Exército monitorá-la.
Para isso, aponta Burmann, o EB dispõe do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), um conjunto de sistemas que agrega satélites, radares, drones, sensores, viaturas, câmeras e aparelhos de comunicação, e que tem como objetivo garantir a presença do Estado nessas áreas de divisas e protegê-las.
Mais especificamente no bioma amazônico, diz o analista, o Exército possui o programa Amazônia Protegida, voltado para questões dessas regiões. "É, digamos, um recorte específico do Sisfron para uma região de maior dificuldade."
Falando em dados e inteligência, sublinha Burmann, há também o Programa Lucerna, que tem como objetivo aperfeiçoar o Sistema de Inteligência do Exército (SIEx), seja através da consolidação de batalhões de inteligência, da modernização das estruturas de informação e comunicação ou do ensino de inteligência militar nas escolas do EB.
Por fim, cabe ao Exército também operar a defesa cibernética da nação. "Essa é uma área que não é intuitivo que deve ser executada pela força terrestre", diz Burmann.
Isso inclui "todos os projetos envolvendo as questões cibernéticas do Brasil, tanto em termos de capacitação de pessoas […] [quanto de] desenvolvimento de sistemas e até mesmo da difusão da questão de defesa cibernética para a sociedade".
Investimentos em armamentos
Em termos de armamentos e equipamentos de combate, o Exército Brasileiro possui alguns programas estratégicos de grande destaque, como o Programa Forças Blindadas, destinado à modernização de viaturas blindadas sobre rodas e de seus sistemas.
"Ele é bastante amplo", diz Burmann, "engloba desde a modernização do Guarani, veículo blindado brasileiro de transporte de tropas, mas que também pode ter um canhão para questão de combate, até cavalarias mecanizadas mais tradicionais".
No ano passado, ressaltou, o Brasil anunciou a intenção de comprar o Centauro, um tanque médio produzido pela Itália.
Dentro do tema está também o Programa OCOP — Obtenção da Capacidade Operacional Plena —, que visa dotar as organizações militares dos sistemas e materiais militares necessários para manter suas capacidades operacionais, que inclui desde fuzis de assalto a mísseis e, com maior destaque, 36 obuseiros autopropulsados sobre rodas.
A cereja do bolo no que tange aos armamentos do Exército é, contudo, o Programa Astros 2020. "Seria o equivalente ao submarino de propulsão nuclear [da Marinha]", aponta Burmann. O sistema de mísseis visa dotar a força terrestre dos meios capazes de prestar apoio de fogo de longo alcance e alta letalidade, contribuindo para a força de dissuasão do EB.
A grande questão com esse programa é que ele utiliza os sistemas da Avibras, empresa de defesa brasileira que passa por um processo de recuperação judicial. Segundo o Exército, os contratos com a empresa ainda estão mantidos, mas, segundo Burmann, a venda segue rodeada de dúvidas e incertezas, uma vez que há rumores da venda da empresa e os trabalhadores seguem paralisados.
Há ainda os programas aéreos do EB, como o Programa Estratégico Aviação, que busca modernizar os helicópteros do Exército. "Algumas aeronaves brasileiras já são um tanto defasadas. Elas foram adquiridas no final dos anos 1990, por processos de compra, então a ideia é renová-las", diz Burmann.
Além disso, na outra ponta, há o Programa de Defesa Antiaérea, que visa capacitar e criar novas unidades de defesa antiaérea no Brasil, "especialmente na defesa antiaérea de ponto, que fica a cargo da artilharia".
Os principais desafios do Exército
Desde 2014, segundo mandato do governo Dilma Rousseff, o orçamento das Forças Armadas caiu 47%, afirmou o Ministério da Defesa durante apresentação na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN). Isso faz com que muitos desses projetos não consigam ser levados adiante pelo EB.
"Boa parte desses planejamentos dos programas estratégicos brasileiros foram feitos em uma outra realidade orçamentária e de planejamento de longo prazo do Brasil", disse Burmann.
Com tantas frentes de importância, afirma o especialista, um dos principais desafios do Exército é elencar quais são suas prioridades. "Se tudo é prioridade, então nenhum é prioritário. É muita coisa, são muitas áreas cobertas."
Nesse cenário, a criação da Empresa Nacional de Desenvolvimento da Força Terrestre (Endeforte), projeto estatal que está em processo de criação, pode ser uma solução para essa realidade orçamentária.
"Imagino que seja uma alternativa que o Exército vislumbrou para conseguir criar e desenvolver melhor esses projetos com um pouco mais de liberdade."
Sendo uma empresa pública, analisa Burmann, isso pode dar maior agilidade ao EB na sua capacidade de captar recursos em outros âmbitos "que não só do Orçamento da União".
"É importante destacar que o sucesso desses projetos não são somente gastos, pelo contrário, eles são investimentos, especialmente aqueles que focam em desenvolver as tecnologias do Brasil."