O conflito ucraniano ajudou a expor as deficiências do sistema de reconhecimento de alvos dos EUA conhecido como Projeto Maven, disse o observador militar russo e especialista em tecnologia de defesa Aleksei Leonkov à Sputnik.
Embora o sistema em questão, que foi concebido para utilizar o aprendizado automático para identificar alvos, tenha provado ser eficaz na confirmação dos preparativos da Rússia para a operação militar especial antes de 24 de fevereiro de 2022, ficou sobrecarregado quando os combates começaram e a situação no terreno começou a mudar rapidamente, explicou Leonkov.
"Aqui está um exemplo. Uma unidade de observação – um drone ou satélite – avista um tanque. Aqui fica uma pergunta: é um tanque? É um tanque de verdade? É o mesmo tanque que foi avistado lá ontem ou é um tanque novo que chegou lá há 15 minutos?", disse. "Basicamente, quando os dados de inteligência estáticos de repente se tornaram dados de inteligência dinâmicos, o projeto Maven vacilou, o que levou a erros de cálculo durante a avaliação da situação no campo de batalha".
Segundo ele, a "contraofensiva" da Ucrânia no ano passado se tornou um dos maiores fracassos do Maven. Em suas palavras, o sistema aparentemente não levou em conta uma "série de fatores" ao avaliar as defesas russas, o que levou as forças ucranianas a sofrerem uma derrota humilhante onde deviam ganhar.
Maven também não conseguiu prever o ataque russo em Avdeevka, disse Leonkov, acrescentando que a perda daquela cidade aparentemente foi um grande golpe para a reputação do sistema aos olhos do Pentágono.
O que é o Projeto Maven
O Projeto Maven é um dos esforços mais recentes e tidos como bem-sucedidos dos Estados Unidos para integrar a inteligência artificial na guerra moderna.
O Maven usa essencialmente aprendizado de máquina para identificar tropas e equipamentos militares, processando dados obtidos de várias fontes, como vigilância de drones e observação por satélite.
Idealmente, este sistema permitiria aos operadores detectar rapidamente os movimentos das tropas inimigas e talvez até antecipar as ações do inimigo, a uma velocidade superior à dos analistas humanos.
Atualmente, os Estados Unidos estão usando ativamente o Maven no conflito ucraniano, com o sistema sendo empregado para fornecer às forças do regime de Kiev informações sobre os movimentos das tropas russas em tempo hábil, observou o The New York Times.
Apesar do progresso alcançado pelos militares dos EUA nesta área, o sistema Maven está longe de ser perfeito.
Por exemplo, membros do 18º Corpo Aerotransportado dos EUA "conseguem identificar corretamente um tanque 84% das vezes", enquanto o Maven "se aproxima de 60%", informou a Bloomberg no mês passado, observando que o último número pode até cair para 30% em um dia de neve.
O NYT também pontuou que as forças de Kiev não conseguiram implementar um dos componentes do Maven – ou melhor, o análogo do "Projeto Maven sombra" que supostamente criaram – nomeadamente, o fornecimento da imagem do campo de batalha aos soldados ucranianos nas trincheiras.