O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ter recebido uma carta do seu homólogo argentino Javier Milei, mas afirmou não ter lido o documento.
A carta foi entregue pela chanceler argentina Diana Mondino ao seu homólogo Mauro Vieira na semana passada, durante reunião em Brasília.
A visita de Mondino ao país foi sua primeira oficial desde a posse do governo de Javier Milei, em dezembro de 2023. A chanceler garantiu que Buenos Aires está "muito interessada" em manter a relação bilateral com o gigante sul-americano.
"O gesto de Milei é importante visto que as relações entre essas duas nações devem ser de interesse comum, além das atuais diferenças ideológicas", disse o cientista político brasileiro Guilherme Simões Reis, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, à Sputnik.
Enquanto isso, Lula e Milei mantêm uma distância política quase absoluta. O atual chefe de Estado argentino expressou repetidamente a sua afinidade com o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, antecessor de Lula no cargo e forte rival político.
"Tanto Bolsonaro quanto Milei se apresentaram como líderes de ruptura, e de forma agressiva, diante da aproximação histórica dos países sul-americanos", afirmou o especialista.
Para ilustrar as semelhanças entre os dois líderes políticos de direita, o especialista lembra que Milei realizou um encontro presencial nos EUA em abril com Elon Musk, dono da rede social X que desafia o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, que o acusou de "manipulação criminosa e intencional" da plataforma X (anteriormente Twitter) e de "obstrução" da Justiça.
No último fim de semana, Bolsonaro participou de uma grande mobilização no Rio de Janeiro, onde expressou seu apoio a Musk enquanto criticava o sistema de justiça nacional.
De acordo com Simões Reis, os contínuos ataques de Milei à figura de Lula, principalmente durante a campanha política na Argentina em 2023, não conseguem se sustentar por muito tempo e que a recente carta enviada a Lula é um sinal disso.
Para o cientista político, no entanto, um encontro bilateral entre os líderes é viável no curto prazo, mas será em um momento "mais interessante" em termos de conveniência para Lula do que para Milei.