Panorama internacional

Ex-oficial da CIA: saída das tropas dos EUA do Chade e Níger sinaliza colapso da hegemonia americana

As forças de operações especiais americanas vão se retirar temporariamente do Chade nos próximos dias em resposta ao questionamento da nação do Sahel sobre a legalidade da presença militar dos EUA na região. A mudança ocorre depois que as tropas dos EUA foram forçadas a sair do Níger.
Sputnik
Dezenas de soldados do 75º Regimento Ranger das Forças Especiais do Exército dos EUA estacionados em N'Djamena, capital do Chade, estão sendo retirados antes das eleições presidenciais da nação do Sahel, marcadas para 6 de maio.
Em abril, a liderança do Chade enviou uma carta ao adido de defesa dos EUA informando-o de que N'Djamena rescindia o Acordo sobre o Estatuto das Forças (SOFA, na sigla em inglês) com Washington. O número exato de soldados norte-americanos no país africano, no entanto, ainda não é claro, mas as autoridades norte-americanas insistem que não excede os 100.
Segundo a imprensa norte-americana, o Pentágono ainda espera negociar um novo acordo com o governo chadiano e regressar ao país após as eleições. Mas o veterano da CIA Larry Johnson acredita que os militares dos EUA deixarão o país para sempre.

"Está falhando. É a maneira mais fácil de dizer isso", disse Larry Johnson, oficial de inteligência aposentado da CIA e antigo funcionário do Departamento de Estado, à Sputnik, comentando a retirada dos EUA do Níger e do Chade.

"Eles tiveram algumas bases [militares] em ambos os países, que foram concebidas para encontrar agentes da Al-Qaeda [organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países] e tentar destruí-los. Mas, claramente, a condução da política dos EUA a este respeito está sendo rejeitada pelos governos locais. Portanto, é realmente um problema para os Estados Unidos em termos da sua perda geral de influência e penso que serão substituídos pela Rússia", continuou ele.
"A Rússia não tem um histórico de escravização de negros africanos — número um", explicou Johnson. "A Rússia não está intimamente ligada aos impérios coloniais: os franceses, os britânicos, os alemães, os holandeses, os belgas, — que têm uma longa história de exploração de África e de exploração do povo, de exploração dos recursos. Por isso penso que tanto a Rússia como a China são vistas como negociadores mais honestos, para ser sincero, muito mais do que os Estados Unidos", acrescentou.
"Isto faz parte de um processo mais amplo, digamos, de desmontagem da ordem internacional 'baseada em regras' liderada pelos EUA. O esforço dos Estados Unidos para dominar o mundo foi revertido. Portanto, penso que este é apenas mais um sinal de que a política dos EUA se desviou", concluiu o veterano da CIA.
Panorama internacional
EUA e Níger marcam reunião sobre retirada das tropas americanas do país africano
O Chade esteve sob o domínio colonial francês de 1900 a 1960. Depois que a nação do Sahel conquistou a independência, os franceses continuaram a enviar tropas para a região em várias ocasiões nas décadas de 1960, 1970 e 1980, sob o pretexto de proteger os governos do Chade.
Entre 1986 e 2014, as forças francesas mantiveram uma presença permanente no país africano com o objetivo declarado de proteger o Chade das forças insurgentes líbias. Após 2014, estas forças foram sustituídas pela tropas da Operação Barkhane.
Em maio de 2014, o The Washington Post informou que os EUA enviaram apenas 80 soldados para o Chade para apoiar as operações de inteligência, vigilância e reconhecimento no norte da Nigéria destinadas a encontrar meninas nigerianas raptadas. A Casa Branca disse que a unidade permaneceria no Chade "até que a sua assistência na resolução do sequestro não seja mais necessária".
No entanto, uma investigação do TomDispatch em 2014 descobriu que os EUA tinham aumentado discretamente a sua presença no Chade e em outros locais de África depois do bombardeio da Líbia pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Entre fevereiro de 2022 e março de 2023, as tropas francesas abandonaram o Mali, o Níger e o Burkina Faso — mediante forte pressão popular local — tendo cerca de 1.000 soldados franceses sido realocados para o Chade, onde permanecem até hoje.
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