As declarações da Rússia em apoio à incorporação da Bolívia ao BRICS geraram expectativas positivas dentro do Estado Plurinacional, onde se acredita que a entrada no grupo é uma oportunidade para avançar no plano de industrialização empreendido pelo governo de Luis Arce.
O governo boliviano tem insistido nos últimos anos em conseguir a sua incorporação ao BRICS, com avanços diplomáticos que lhe permitiram reforçar as relações com Rússia, Brasil, Índia e China, que juntamente com a África do Sul fundaram este bloco político-econômico em 2009.
Em 2023, a vizinha Argentina foi convidada a aderir ao BRICS. Mas quando Javier Milei assumiu a presidência, rejeitou a aliança e optou por se incluir no eixo formado por Estados Unidos, Reino Unido e Israel. O mandatário até solicitou a adesão do país à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
A Bolívia poderia aproveitar a vaga deixada pela Argentina. O analista político Federico Serra disse à Sputnik que a eventual incorporação abriria o país a um imenso mercado internacional, cobrindo 35% do comércio mundial. A associação com potências emergentes também resultaria em uma transferência de tecnologia fundamental para dar continuidade ao plano de industrialização de Arce.
"Os países associados ao BRICS têm um PIB muito superior ao que chamo de Anglosfera. A economia chinesa já superou em muito a economia norte-americana, aceitando as regras do mercado e com um planejamento praticamente imbatível", explicou Serra.
"De Washington, Londres ou Nova Zelândia, o que era a Commonwealth, percebem que o BRICS os superou em PIB, apesar de todas as sanções que impuseram à Rússia como resultado da operação militar especial na Ucrânia", avaliou o analista.
Ele acrescentou ainda que "o BRICS representa um tipo de desenvolvimento econômico não mais baseado na acumulação, mas em uma economia de desenvolvimento apoiada em ecúmens, tomando a definição proposta por Aleksandr Dugin", ou seja, "comunidades, coletividades, pessoas unidas pelas culturas, pela história, pelas etnias, pela língua", como partilham muitas populações da América Latina, explica Serra.
Nesse sentido, "a Anglosfera aposta no lado financeiro. Oferece lançamentos contábeis para dinheiro que nunca entra nos países, o que se traduz em mais dívida, como é o caso da Argentina", enquanto o BRICS "dá um bem de capital, como um trator por exemplo, para a modernização do campo, ou outros elementos", exemplificou o analista.
Um bloco crescente
O BRICS inclui uma população de 3,5 bilhões de pessoas, representando 40% dos habitantes do mundo. Além dos países fundadores, aderiram recentemente a Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia e o Irã.
Além da Bolívia, Cuba, Venezuela, Argélia, Senegal, Turquia, Cazaquistão, Bahrein, Belarus, Mianmar, Tailândia e Bangladesh solicitaram entrada.
Segundo o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, serão feitos esforços para resolver estes pedidos nos próximos meses.
"A Rússia apoia as aspirações da Bolívia. Como presidente do BRICS neste ano, está interessada em garantir que o maior número possível de países que queiram se aproximar do BRICS, seja para se tornarem membros ou para estabelecer associações estáveis e permanentes, recebam uma resposta positiva concreta", disse ele em Moscou dias atrás, quando se encontrou com a ministra das Relações Exteriores da Bolívia, Celinda Sosa.
De acordo com Lavrov, "a Bolívia é um dos parceiros prioritários e promissores da Rússia na América Latina e no Caribe. Destacamos que os laços bilaterais se intensificaram visivelmente em quase todas as áreas e estão se desenvolvendo solidamente".
Tudo o que você precisa
Serra avaliou que "a Bolívia tem tudo o que é necessário para fazer parte do BRICS: tem extensão geográfica, recursos naturais e capacidade de geração de energia, o que é fundamental para o desenvolvimento".
Com o apoio do bloco, o Estado Plurinacional poderá aceder às novas tecnologias "para não mais apenas produzir bens e serviços, mas adquirir uma capacidade industrial que nos permita avançar na engenharia genética, na produção de materiais sintéticos, no desenvolvimento da robótica, computação e inteligência artificial [IA]", postulou Serra.