Em seu discurso de saudação aos presentes no auditório Paulo Kobayashi, o embaixador da Rússia no Brasil Alexey Labetskiy fez questão de mencionar que o Brasil foi o único país latino-americano a enviar um corpo expedicionário para combater as forças nazistas na Europa. Por isso o país possui todo o direito de sentir-se partícipe dessa grande celebração do Dia da Vitória contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Para a Rússia, por sua vez, esse dia tem um significado ainda mais marcante, pois trata-se de uma data em que os russos homenageiam os mais de 25 milhões de soviéticos que entregaram sua vida durante o conflito, a fim de derrotar a maior e mais letal máquina de extermínio da história humana.
Não à toa, o embaixador Alexey Labetskiy aproveitou sua fala para contar a história de seu tio, piloto militar nos anos 1940, abatido durante a defesa de Leningrado, atual São Petersburgo. O exemplo trazido por Labetskiy é ilustrativo, pois o fato é que: na Rússia, assim como nos demais países que compunham a antiga União Soviética, praticamente não há famílias que não tenham sido afetadas pela guerra contra o nazifascismo.
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo celebra os 79 anos do Dia da Vitória contra o nazismo, evento de 6 de maio de 2024
© Sputnik
É por isso que o Dia da Vitória não é apenas uma data em que se celebra o triunfo militar Aliado sobre os alemães, mas sim um momento de lembrança e, especialmente, de reflexão acerca das condições que levaram àquela tragédia e à perda de milhões de vidas inocentes. Não à toa, os russos sempre se portaram de modo a condenar e a impedir o ressurgimento de ideias fascistas ao redor do mundo, afirmando por diversas vezes em discussões na ONU que os povos amantes da paz nunca deveriam baixar a guarda, pois o pensamento nazista (ou neonazista) está voltando a dar as caras mais uma vez.
Essa é uma questão que merece especial atenção sobretudo quando pensamos nos desenvolvimentos recentes na Europa, que vem testemunhando uma série de problemas sociais e econômicos, levando à radicalização doméstica e sistemática de segmentos nacionalistas e extremistas em vários países, com destaque para a Ucrânia pós-2014. No mais, é preciso lembrar que foi justamente na Europa que o ideário nazista de superioridade racial e de dominação sobre outros povos encontrou seu epítome na primeira metade do século XX, tendo início na Itália de Mussolini nos anos 1920, consolidando-se por fim na Alemanha durante os anos 1930 com a chegada de Hitler ao poder.
Contudo, a influência do nazismo no continente foi muito além desses dois países apenas. Afinal, quando Hitler enfim decide invadir a União Soviética em junho de 1941, os soviéticos se viram obrigados a enfrentar não só os alemães, mas sim um exército verdadeiramente multinacional, composto por quase todos os representantes dos países europeus. O mesmo havia ocorrido pouco mais de um século antes, quando La Grande Armée de Napoleão Bonaparte invadiu o Império Russo em 1812.
Isso significa que, para os russos, assim como para os demais povos soviéticos, a Grande Guerra pela Pátria (parte da Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 22 de junho de 1941 e 9 de maio Grande Guerra pela Pátria de 1945) se deu não só contra o nazismo alemão, mas sim contra o nazismo europeu de um modo geral. Essa é uma perspectiva que precisa estar sempre na mente de todos. Pois, de tempos em tempos, vemos que as ideias em torno do "exclusivismo" ou do "excepcionalismo" europeu em relação a outros povos continuam bastante vivas no continente.
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo celebra os 79 anos do Dia da Vitória contra o nazismo, evento de 6 de maio de 2024
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Afinal, não foi Josep Borrell (alto representante da União Europeia para Assuntos Estrangeiros) quem disse que a Europa era um "jardim" enquanto o resto do mundo era uma "selva"? Tal declaração mostra claramente que esse senso de "superioridade" europeia nunca desapareceu por completo, e é contra isso que a Rússia empreende sua luta política, convidando os demais povos do planeta a fazerem o mesmo. Essa é a luta representada pelo BRICS, pelo Sul Global, ou melhor dizendo, pela "Maioria Global", uma luta por direitos iguais para todos e pelo reconhecimento de sua soberania política. Esse é também um clamor contra o colonialismo, o racismo e qualquer tipo de expressão de superioridade de determinada civilização sobre as demais.
No mais, dentro de dois dias (mais precisamente em 9 de maio) será realizado em Moscou a tradicional Parada da Vitória na Praça Vermelha. Nele, tomarão parte militares, civis, chefes de Estado e veteranos de guerra, todos eles prestando suas homenagens aos caídos durante o conflito contra o nazismo, rememorando aqueles que entregaram suas vidas para defender os interesses de toda a humanidade e o bem-estar das civilizações. Mais uma vez, o Brasil também é digno de celebrar essa data, tendo sido o único país latino-americano a enviar o seu Exército para combater o fascismo na Europa. Logo, é bastante simbólico que o estado de São Paulo, principal lócus econômico e populacional do país, tenha cedido um honroso espaço em sua Assembleia Legislativa para rememorar o Dia da Vitória.
Para todos os que estiveram no auditório Paulo Kobayashi no dia 6, certamente que a lembrança desse evento nunca mais deixará de estar presente em suas mentes. Afinal, foram muitos os momentos que marcaram esse encontro. Como os depoimentos em vídeo de brasileiros cujos parentes lutaram na guerra, ou então como a entrega de certificados ao final da cerimônia àqueles, cujas famílias participaram da vitória contra o nazismo nos anos 1940.
Ora, o momento não poderia ser mais oportuno. Pois, como bem mencionou o deputado Maurici de Lima em sua fala inicial, os dias atuais exigem uma reflexão especial sobre a importância do esforço conjunto para impedir o ressurgimento dos ideais fascistas e nazistas em todo o mundo. O Brasil, enquanto isso, continuará optando pelo caminho da paz, como destacou Irene Vida Gala, fornecendo o exemplo para os demais povos do globo, desejosos de impedir com que a tragédia do nazifascismo venha a se repetir em pleno século XXI.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.