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Dia da Vitória: memórias de um ex-combatente da FEB na 2ª Guerra Mundial (VÍDEO)

Walfrid de Moraes tinha apenas 21 anos quando saiu do subúrbio do Rio de Janeiro para entrar para a história como um dos combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no front contra as forças nazifascistas de Adolf Hitler.
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"O senhor vai para a guerra, vai dar um passeio lá na Itália." Com essas palavras do médico do Exército que o examinou, ele ficou sabendo que serviria no 3º Regimento de Infantaria da FEB, que enviou centenas de homens para a Segunda Guerra Mundial, entre 1944 e 1945, no norte da Itália.
Na celebração dos 79 anos do Dia da Vitória, quando as forças Aliadas derrotaram o nazismo, a Sputnik Brasil entrevistou o veterano, que aos 102 anos ainda lembra de detalhes valiosos desse período trágico da história da humanidade.
Morador da cidade fluminense de São Gonçalo, ele conta que uma das primeiras lembranças daquela época é a visão do morro do Pinto, no porto do Rio de Janeiro, se afastando, "cheio de bandeirinha dando adeus para a gente, bandeirazinha branca. Foi um dia de manhã, o balanço no navio foi um negócio esquisito, sabe?", lembra ele.

"O Pão de Açúcar estava sumindo, rapaz. Olha aí, agora não tem jeito, sabe? Aí pega o Atlântico, vambora, vambora, né? […] na entrada de Gibraltrar me deu uma febre, que já tinha tido no Brasil", recorda-se Moraes.

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Retrato do ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) Walfrid de Moraes, que lutou contra as forças nazifascistas de Adolf Hitler em front italiano na Segunda Guerra Mundial

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Walfrid de Moraes, ex-combatente da FEB, no contexto da Segunda Guerra Mundial

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Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Batalha de Monte Castello

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Pôster sobre a participação da Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial faz alusão à guerra antissubmarino

Mal chegou na Itália, ficou 12 dias internado em um hospital em Nápoles. Já convalescendo, passou por Livorno até chegar em Pisa. Staffoli foi o destino final do veterano, onde ficou até o fim da guerra.
Nos momentos livres, Moraes visitou algumas localidades, como Ponte Cappiano e Fucecchio, onde fez amigos que o acolheram e amenizaram os meses difíceis, marcados por escassez de alimento, perdas de colegas e noites de muita tensão:

"Ficava a noite toda ali tomando conta da entrada do acampamento. Quando tinha lua, muito bem. Mas quando não tinha lua… Tudo escuro", lembra. "A gente escutava só o tiro do canhão. Ou, se não, o avião passando por cima do acampamento. Só pensava no Brasil, na minha família, meus pais."

Além do medo, o frio era outra constante nos dias que se seguiram. "A gente tinha agasalho, né? Tinha bastante agasalho. Mas, mesmo assim, sentia frio."

Todo o desconforto e insegurança se esvaneceram no Dia da Vitória, afirma o ex-combatente: "Foi uma festa. Uma beleza, porque todo mundo ficou alegre. E a chegada aqui no Brasil foi melhor ainda, não é?"

Soldados brasileiros cumprimentam civis italianos na cidade de Massarosa, em setembro de 1944
Mas antes de voltar para casa, a tropa precisou fazer uma parada em Portugal:

"Porque o chefe de lá, Salazar Carmona, pediu a passagem. Desfilamos na avenida principal, parece que é a avenida da Liberdade, se não me engano."

Já no Brasil, o desfile dos heróis de guerra ocorreu na avenida Presidente Vargas, no Centro da cidade do Rio de Janeiro.

"Rapaz, foi uma festa tremenda. Todo mundo queria invadir no meio da gente lá, agarrar soldado, abraçar…"

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"Mas no fim deu tudo certo, sabe? […] E a vitória traz alegria, sabe? A vitória traz alegria."

A FEB e a participação do Brasil na 2ª Grande Guerra

A Sputnik Brasil também entrevistou um dos monitores do Censo Permanente da FEB, criado em 2020, sobre os veteranos que ainda estão vivos no Brasil, o pesquisador e especialista em FEB Daniel Dinucci.

"Atualmente temos cerca de 60 brasileiros que participaram [da guerra], porém, no auge da nossa pesquisa, o número chegou a 150. É uma pesquisa permanente, constante, que visa contabilizar quantos expedicionários temos e convidá-los para solenidades, para poder prestar as homenagens — por exemplo, ano que vem nós faremos 80 anos do término da guerra", explica o pesquisador.

Ele lembra que a FEB tem como marcos de combate a Batalha de Monte Castello e a tomada de Montese, assim como a rendição da 148ª Divisão de Infantaria alemã, quando, em um caso raro, uma divisão inteira se rendeu aos brasileiros.

"A atuação da FEB começa em Nápoles, em 1944, após o desembarque das tropas nesse porto. A FEB entra em linha meses depois, no contexto do vale do rio do Pó, "em que inicia batalhas importantíssimas para a história do nosso Exército e da atuação da FEB na Itália, como as batalhas de Monte Castello e Montese, e a rendição de Fornovo di Taro, onde uma divisão inteira de alemães se rende aos brasileiros."

Segundo ele, a divisão brasileira, em 1944 e 1945, teve papel crucial como material humano para os Aliados e contribuiu de maneira relevante para a expulsão das forças do Eixo, principalmente os alemães, do norte da Itália.

"Até hoje ela [a divisão] é muito festejada e comemorada pelos italianos, conhecida como Liberatori, que representa os libertadores da Itália. Temos eventos que acontecem na Itália e no Brasil, e podemos ouvir dos veteranos, dos nossos expedicionários vivos, a relação de amizade que foi criada com o povo italiano durante esse período."

Sobre o legado da guerra, o veterano já centenário lamenta que após quase 80 anos as nações não tenham aprendido com os erros do passado e a lidar com os conflitos políticos e econômicos sem violência e mortes:
"Tem horas que dá vontade de chorar por ver tanta criança sofrendo e chorando", comenta ele sobre o recente conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas.

"A guerra, rapaz, é a coisa pior que tem, uma tristeza. Acho que o que falta é amar o seu próximo, como diz a palavra de Deus. Amar o teu próximo, entendeu? E a pessoa nunca pensar que é melhor do que ninguém. Ser humilde. Se você tem condições de ajudar alguém, você ajuda", conclui o herói de guerra.

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