"O mito aqui é um instrumento de interpretação da realidade. A gente tem uma realidade complexa, difícil de compreender, e se desenvolve em mitos para dar significado ao que temos dificuldade de entender no cotidiano, na vida ou na nossa história", explicou o pesquisador Icles Rodrigues.
"A Alemanha já estava perdendo. Eles já tinham sofrido uma derrota significativa em 1941 em Moscou. E, no verão de 1942, eles empreendem outra ofensiva que é derrotada especialmente na Batalha de Stalingrado, em 1943", narrou o historiador.
"Isso culmina na campanha de Kursk, onde os alemães são derrotados de novo. E, nesse meio tempo, enquanto Kursk está acontecendo, os aliados estão invadindo a Itália, e ali nesse momento está muito claro que é questão de tempo para a Alemanha perder a guerra", esclareceu ele. "Então, dizer que a guerra não seria vencida caso o Dia D não acontecesse é um delírio. É vontade de querer manipular a história."
Dia da Vitória
"Para o Ocidente, o dia 8 virou o marco, e para a União Soviética e países do leste europeu, até então passou a ser o dia 9", pontuou. "Por mais que se comemore no dia 8 e houvesse essa assinatura da capitulação definitiva, da rendição definitiva da Alemanha nazista em Praga, na então Tchecoslováquia, os combates seguiram no dia 9. A guerra não tinha ainda acabado porque as tropas nazistas em Praga ainda resistiam", acrescentou ele.
A guerra sob o prisma do cinema de Hollywood
"Apesar de excelente, é um filme que, sim, ajuda a consolidar uma série de mitologias a respeito do soldado cidadão dos Estados Unidos da importância do Dia D", opinou. "Mas ele não vem sozinho, vem no escopo de eventos e discursos presidenciais e toda a comemoração do Dia D."
"O Ocidente nunca se preocupou em passar filmes que mostrassem o papel soviético na Segunda Guerra Mundial", lembrou. "Vemos muitos filmes da Batalha da Inglaterra, os Spitfires, os pilotos norte-americanos, os Red Tails, só que o cara que mais abateu aviões inimigos foi um soviético chamado Ivan Nikitovich Kozhedub, filho de camponeses, que trabalhava como torneiro mecânico", contou Rodrigues.
Histórias para brasileiro ver
"Não havia um livro sobre essa questão. E nos livros de história, embora se reconheça, se fale do papel, nunca tem o destaque que deveria ter. O Dia D é o máximo que aconteceu na Segunda Guerra Mundial. […] o Dia D, foi o grande momento", criticou ele.
"Por mais que não tenha a mesma força, o mesmo destaque, é firme, vai avançando, vai dialogando. Permite que as próximas gerações tenham acesso a mais informações. […] vemos nas nossas lives, quando a gente produz os nossos livros, que muitos do nosso público são jovens e estão ávidos, porque a juventude está ávida sempre a saber mais", concluiu ele.