O governo do Egito cogita deixar de atuar como mediador nas negociações entre Israel e o movimento palestino Hamas por um cessar-fogo na Faixa de Gaza, em decorrência da operação lançada pelo Exército israelense contra a cidade de Rafah, no sul do enclave.
A informação foi veiculada pelo The Wall Street Journal, que citou autoridades egípcias contrariadas com o bloqueio de Israel à entrada de caminhões com ajuda humanitária na Faixa de Gaza por meio da passagem de Kerem Shalom. Localizada na fronteira sul do enclave com Israel, a passagem vinha sendo usada há alguns dias como local alternativo à passagem de Rafah para a entrada de ajuda humanitária.
"O Cairo ficou indignado com o fato de Israel tê-lo avisado [do fechamento de Kerem] pouco antes de tomar a passagem da fronteira de Rafah, na semana passada, e ameaçou deixar de atuar como mediador nas negociações e suspender o tratado de paz com Israel", disseram autoridades egípcias ao jornal.
Ainda segundo o jornal, uma autoridade disse à estação de rádio israelense Kan, em condição de anonimato, que a operação militar israelense em Rafah representa risco ao acordo de paz assinado em 1979, pelos governos de Israel e Egito, o primeiro acordo firmado por Tel Aviv com um país muçulmano. O pacto é considerado um dos pilares da estabilidade regional do Oriente Médio.
Em 1979, Egito e Israel assinaram um tratado de paz mediado pelos Estados Unidos, conhecido como acordos de Camp David. Graças a eles, o Egito recuperou a Península do Sinai, ocupada por Israel em 1967. Após a conclusão do tratado de paz, as partes estabeleceram relações diplomáticas. Os acordos autorizam o Egito a manter um contingente militar limitado na fronteira com Israel.
Em 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou um ataque com foguetes em grande escala contra Israel e rompeu a fronteira da Faixa de Gaza, atacando bairros civis e bases militares. Quase 1.200 pessoas em Israel foram mortas e cerca de 240 foram sequestradas durante o ataque.
Israel lançou ataques retaliatórios, ordenou um bloqueio total de Gaza e iniciou uma incursão terrestre no enclave palestino, com o objetivo declarado de eliminar os combatentes do Hamas e de resgatar os reféns. Mais de 35 mil pessoas foram mortas até agora por ataques israelenses na Faixa de Gaza, segundo as autoridades locais. Acredita-se que mais de 100 reféns ainda estejam detidos pelo Hamas em Gaza.