Este ano, Brasil e Estados Unidos comemoram 200 anos de relações diplomáticas, e a Câmara de Comércio dos EUA, citada pela Folha de S.Paulo, diz que planeja investir na relação de estabilidade e diversificação de produtos para se contrapor ao peso crescente da China no país.
Enquanto 70% das exportações brasileiras para a China se concentram em apenas três produtos (petróleo bruto, minério de ferro e soja), a pauta comercial com os EUA é mais diversificada e inclui 49 grupos de produtos que constituem a mesma proporção de vendas externas, relata a mídia.
No entanto, apesar da perspectiva positiva apresentada, as relações entre Brasil e EUA também são influenciadas pelas disputas geopolíticas em nível global. Neste contexto, os acenos do governo brasileiro a Pequim e uma maior proximidade com o Sul Global são percebidos por alguns como um posicionamento contra Washington.
Ainda assim, há quem defenda que, mesmo com um viés político, a economia e as trocas comerciais podem não ser afetadas.
"Existem algumas orientações e relações básicas de política externa que não mudam muito de governo para governo nem são diretamente afetadas pela política interna. EUA e Brasil têm muitas afinidades culturais, investimento mútuo nas economias um do outro, uma grande e crescente população brasileira nos EUA, laços comerciais significativos e posições comuns sobre muitas questões", ressaltou o cientista político Anthony W. Pereira, professor da Universidade Internacional da Flórida, ouvido pela Folha.
Há também quem acredite que as recentes tarifas aplicadas pela administração Biden sobre produtos chineses, ação que impulsionou uma guerra comercial, de fato, entre os dois países, será uma boa oportunidade para o Brasil.
Para Simon Rosenberg, estrategista do Partido Democrata, ouvido pelo jornal Valor Econômico, as novas medidas de Biden representaram um movimento mais agudo do que os EUA estão acostumados a fazer em questões de comércio exterior.
"Estive envolvido em todos os contratos de livre-comércio que temos hoje, e o governo Biden está indo atrás de uma estratégia diferente. Isso representa uma oportunidade para o Brasil, porque estamos indo de uma era econômica para outra", afirmou.
Já o estrategista do Partido Republicano, Scott Jennings, admite que há um sentimento anti-China, o qual Washington pode explorar com o Brasil.
"Para nossos aliados no Ocidente, há muitas oportunidades, e vocês vão encontrar pessoas que concordam em ambos os partidos. Há um desejo de lutar contra a China e encontrar outros países como o Brasil para estar do lado dos EUA. A aliança contra a China traz, para todos vocês, enormes oportunidades", afirmou.
Não só no âmbito político e econômico, mas também no militar, os Estados Unidos parecem estar fazendo uma campanha contra a presença chinesa na América Latina.
A chefe do Comando Sul dos EUA, Laura Richardson, comentou na sexta-feira (24), após exercícios de guerra no Panamá no qual cerca de 20 países latino-americanos participaram, que os "inimigos da democracia" estão "tentando substituir o sistema de governo" na região, conforme noticiado.