Panorama internacional

Mesmo sendo grande exportador agrícola, Brasil negligenciou setor de fertilizantes, diz sindicalista

Na ordem do dia, durante a cerimônia de posse da nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, a retomada de investimentos em fertilizantes foi apontada como uma das iniciativas a serem levadas a cabo pela estatal. O setor é estratégico para o desenvolvimento do país?
Sputnik
De acordo com o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), o Brasil ocupa a quarta posição no consumo global do insumo. Soja, milho e cana-de-açúcar são os que mais usam o elemento, e cerca de 70% do fertilizante utilizado no Brasil está concentrado nessas commodities. Além disso, o país importa quase 90% do insumo, o que configura uma grande dependência externa.
Durante seu discurso na cerimônia de posse, Chambriard afirmou que "a retomada ao setor de fertilizantes tem uma razão cristalina", sendo "uma boa oportunidade para ampliar significativamente o mercado de gás".
A ideia do PNF é chegar a 2050 com a produção nacional capaz de atender entre 45% e 50% da demanda interna.
A presidente anunciou também a reabertura da Araucária Nitrogenados, no Paraná, prevista para recomeçar no segundo semestre de 2025.
Segundo Cibele Vieira, diretora da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e coordenadora do Sindipetro Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo, além da fábrica de Araucária, o grupo de trabalho de fertilizantes da Petrobras discute também a retomada das fábricas na Bahia e no Sergipe, além da conclusão do reinício das obras da UFN-III, "projetada para ser a planta com melhor eficiência energética com tecnologia HBR".
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Produção nacional de fertilizantes é uma questão estratégica?

Vieira comenta que "o setor de fertilizantes foi negligenciado ao longo da história, mesmo o Brasil sendo um grande exportador de commodities agrícolas".
Para ela, oscilações internacionais, como o conflito na Ucrânia, afetam diretamente a produção no setor, estratégico não só para a economia, mas para a "soberania alimentar do país".

"É muito importante para o Brasil fortalecer esse setor. Para o agronegócio, você tem mais disponibilidade de fertilizantes sob controle nacional […] para o pequeno produtor. Isso melhora a produção na lavoura, sendo que grande parte do alimento na mesa dos brasileiros vem do pequeno agricultor. Então é uma questão importante tanto para o agronegócio como para os pequenos produtores, para garantir uma soberania alimentar brasileira", analisa.

Marco Antônio Rocha, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), avalia que "em condições normais, não se justificaria a entrada da Petrobras ou o retorno da Petrobras para essa área específica de fertilizantes", mas as condições não são normais e o cenário internacional é de "incertezas", considera.

"O estrangulamento externo, o estrangulamento do fluxo de comércio de um determinado insumo pode provocar danos muito maiores do que o fomento ao desenvolvimento interno ou pelo menos a multiplicação dos fornecedores de determinado insumo. Isso tem levado a práticas muito comuns como a gente está vendo no caso da Petrobras. Esse tipo de prática vai se tornando um tanto comum nesse cenário, que é tanto uma preocupação das economias nesse cenário de incerteza de defenderem, vamos dizer assim, insumos estratégicos para os seus sistemas econômicos", explica o professor.

Investimento estrangeiro pode impulsionar setor?

Em março deste ano, a EuroChem, líder global em fertilizantes, inaugurou um complexo mineroindustrial na Serra do Salitre (MG). O investimento aplicado foi avaliado em US$ 1 bilhão (R$ 4,97 bilhões), sendo o segundo maior da empresa no mundo — atrás apenas do projeto da companhia na Rússia.
O professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) Sillas de Souza Cezar afirma que Rússia e Arábia Saudita são potenciais parceiros interessados no setor e "poderiam trazer tecnologias produtivas que não temos, o que é um ganho muito importante para o país". Entretanto, o analista pondera que um ambiente institucional instável pode representar riscos associados à política externa.
Ele avalia ainda as reservas naturais do país em relação aos principais nutrientes usados no setor agrícola no Brasil. Segundo Cezar, "não somos autossuficientes em nenhum deles, mas poderíamos diminuir significativamente nossa dependência externa".
"A reabertura da Fafen-PR, por exemplo, pode impulsionar a produção de fertilizantes nitrogenados. Temos reservas de gás natural, de onde podemos extrair a matéria-prima necessária. Temos reservas expressivas de rochas fosfáticas de baixa qualidade e cadentes reservas de rochas de melhor qualidade. As reservas de potássio são relativamente grandes, mas há entraves ambientais na exploração", descreve.
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