Em depoimento por vídeoconferência no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, Domingos falou como testemunha de defesa do irmão no processo de cassação aberto na Casa contra o parlamentar. Os dois estão presos desde maio, acusados de terem sido os mandantes do duplo assassinato.
Domingos está detido na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, e Chiquinho está na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Ambos os irmãos negaram ter tido qualquer contato com o ex-delegado Rivaldo Barbosa, que também está preso desde março, assim como os demais supostos envolvidos no crime.
Sobre sua relação com Marielle Franco quando era seu colega na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, Chiquinho Brazão disse que tinha uma excelente relação com a vereadora.
"Nos sentávamos lado a lado […], apoiava as pautas em que ela acreditava. Não sei se ela me via como um pai", afirmou em depoimento. "É saudável a divergência, mas sempre me dei muito bem com a esquerda."
Chiquinho admitiu que já teve contato com integrantes da milícia como parlamentar, mas apenas quando precisava visitar comunidades dominadas por criminosos e de maneira superficial, e nunca pediu permissão para atuar nesses locais. "Muitas vezes nem sabia que eram, ficava sabendo depois."
Já Domingos admitiu a existência de comunidades dominadas pelas milícias, mas negou envolvimento com esses grupos.
"Não existe relação nenhuma com esse tipo de gente no Rio de Janeiro. Essa falácia não procede. O Brasil inteiro acredita. Infelizmente, as comunidades no Rio são dominadas ou pelo tráfico ou pela milícia", disse Domingos.
Os irmãos também afirmaram que nunca tiveram contato com o assassino confesso de Marielle e Anderson, Ronnie Lessa.
"Nunca vi e nunca tive conhecimento […]. Somos vítimas de uma acusação de um réu confesso para obter benefício. Nem imagino por que esse indivíduo esteja nos acusando. Provavelmente está protegendo alguém", afirmou Chiquinho, enquanto Domingos chegou a chamar Lessa de "psicopata".
Em delação premiada, Lessa apontou os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão como mandantes do crime. Lessa apontou ainda o envolvimento de Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro no caso.
As oitivas foram encerradas e o processo deve ficar suspenso durante o recesso parlamentar e ser retomado no começo de agosto com a leitura do relatório. A deputada Jack Rocha (PT-ES) é a relatora do processo.
Se aprovada na comissão, a cassação será analisada pelo Plenário da Câmara. A tendência é que a votação aconteça ainda neste segundo semestre. Para que o mandato seja cassado, são necessários pelo menos 257 votos favoráveis no Plenário.
Em depoimento, Rivaldo Barbosa também nega envolvimento no crime
Ontem (15) foi a vez de Rivaldo Barbosa depor no Conselho de Ética. Ele também negou qualquer envolvimento com os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão.
Chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro na época do assassinato, Barbosa está preso sob a acusação de comprometer as investigações do assassinato. Ele assumiu o cargo dias antes das execuções e foi chefe de Polícia Civil de março a dezembro de 2018.
Ele culpou a milícia pelo assassinato da vereadora, além de várias outras pessoas. "Lutei muito contra essas milícias e hoje estou aqui em razão disso", defendeu-se Barbosa.
De acordo com as investigações da Polícia Federal, a Delegacia de Homicídios não promoveu "diligências frutíferas para a investigação" e "concorreu para a sabotagem do trabalho apuratório".
Ele também negou o teor da delação premiada de Ronnie Lessa, que acusou o ex-delegado de ter dado aval aos irmãos Brazão de que o crime ficaria impune.