O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi entrevistado pela jornalista Renata Varandas, da emissora Record, na manhã de terça-feira (16). Antes mesmo de a emissora divulgar trechos das falas de Lula em sua programação, no período da tarde, falas descontextualizadas sobre a responsabilidade fiscal do governo já estavam nas mãos de especuladores financeiros.
Nas citações, Lula teria dito que precisaria ser "convencido" da necessidade do corte de gastos e que a meta fiscal não "necessariamente precisava ser cumprida".
"Em entrevista à Record TV, que será veiculada hoje, ao longo dia, o presidente Lula disse que é preciso convencê-lo de que será mesmo preciso cortar entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões no relatório de 22 de julho. Disse ainda que se precisar modificar a meta, ele não se opõe", diz um documento divulgado a investidores pela BCG.
O texto foi atribuído pela corretora à consultoria financeira Capital Advice, companhia na qual Renata Varandas é uma das três sócias. A suspeita é de que ela tenha antecipado informações da entrevista ao mercado financeiro, o que teria levado a especulações que chegaram a influenciar a cotação intradiária do dólar.
Em nota, a Record esclareceu que não tinha conhecimento da ligação de Varandas com o mercado financeiro e que vai tomar "medidas cabíveis".
"A emissora deixa claro que condena qualquer vazamento de informações, principalmente com recorte parcial do que é apurado em entrevistas feitas por nossas equipes. Medidas cabíveis serão tomadas com a apuração dos fatos."
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as falas antecipadas de Lula foram divulgadas de maneira descontextualizada, ressaltando que o presidente se referiu à margem de tolerância estabelecida pelo próprio arcabouço fiscal.
Além disso, o Ministério divulgou trechos da entrevista em que Lula se compromete a manter os gastos do governo dentro dos limites.
"Vamos fazer o que for necessário para cumprir o arcabouço fiscal. Eu dizia na campanha que íamos criar um país com estabilidade política, jurídica, fiscal, econômica e social. Essa responsabilidade, esse compromisso — posso dizer para você como se tivesse dizendo para um filho meu, para a minha mulher. Responsabilidade fiscal eu não aprendi na faculdade, eu trago do berço", disse o presidente à Record.