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Brasil poderia aproveitar melhor chance de ouro para aumentar comércio com Rússia, dizem analistas

Nesta terça-feira (6) faz dez anos que a Rússia estabeleceu contrassanções em resposta às medidas tomadas pelo Ocidente para prejudicar sua economia. Nesse período, o comércio entre a Rússia e o Brasil atingiu seu maior patamar histórico, segundo dados do IBGE, mas ainda tem muito a crescer.
Sputnik
Entre 2022 e 2023, o volume comercial entre a Rússia e o Brasil cresceu 80%, apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) analisados pela Sputnik. Hoje, a Rússia é o quinto maior fornecedor externo do Brasil, enquanto o Brasil figura também como o quinto maior destino das exportações russas.
Dados do IBGE e da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), apontam ainda para um maior fortalecimento neste ano — em grande parte, devido ao aumento nas importações de diesel, fertilizantes e outros hidrocarbonetos e minerais betuminosos.
No entanto, o déficit comercial brasileiro frente à Federação da Rússia também aumentou, evidenciando um hiato, de volume ou de preço, nessas trocas. Em 2023, a diferença entre as importações e as exportações foi de aproximadamente US$ 1,4 bilhão (R$ 7,92 bilhões).

Benefícios das importações russas

Dados do crescimento do produto interno bruto (PIB) brasileiro divulgados pelo IBGE apontam que o agronegócio é um dos maiores motores de desenvolvimento do país. Só no primeiro trimestre deste ano, o setor agrícola cresceu 11,3%. Em 2023, o agro fechou com um percentual positivo de 15,1%.
A Rússia é uma grande contribuidora desse avanço econômico brasileiro graças ao fornecimento de fertilizantes e de óleo diesel, que alimenta a frota de tratores e caminhões responsáveis pela colheita e pelo transporte desses produtos.
Da mesma forma, o bolso do consumidor brasileiro sai como grande beneficiado. Isso porque o combustível é vendido com desconto ao Brasil. O diesel chega ao país cerca de 6% mais barato do que o valor cotado no mercado internacional, aliviando o preço final do produto.
Outra área que se beneficiou da aproximação russo-brasileira nos últimos anos foi a nuclear. A companhia Indústrias Nucleares do Brasil (INB) recebeu recentemente 21 toneladas de urânio enriquecido da Rússia, destinadas à recarga da usina de Angra 1.
As importações de urânio enriquecido russo somam US$ 46,5 milhões (R$ 263,21 milhões) só neste ano. Esse comércio ressurgiu em 2023, tendo ocorrido pela última vez em 1988.
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Exportações brasileiras 'estagnam'

Para especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, entretanto, o governo brasileiro não soube aproveitar a oportunidade e aprofundar ainda mais as relações comerciais com a Rússia.
Para Giovana Branco, pesquisadora de política russa e doutoranda em ciência política na Universidade de São Paulo (USP), as relações Brasil-Rússia "se multiplicaram na medida em que a Rússia passou a ter menos opções entre os países ocidentais".
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Desde 2019, a participação brasileira na lista de exportações da Rússia cresceu 171,8%, enquanto na lista de importações brasileiras os russos subiram da 11ª posição em 2019 para quinto lugar em 2023.
Em comparação, entre 2021 e 2023, os Estados Unidos e a Alemanha viram um recuo de aproximadamente 85% de suas importações russas. Já o Reino Unido viu seu comércio com o país despencar 98,6% no mesmo período. Os dados são do Centro de Comércio Internacional (ITC, na sigla em inglês), agência conjunta da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Hoje, o Brasil exporta para o país produtos e commodities alimentícias, como soja, carne, café e açúcar. Isso não é nenhuma surpresa, aponta José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Afinal, o país é um dos principais exportadores mundiais desses gêneros e "é natural que a Rússia vá buscar fornecedores alternativos".

"Então o fato de a Rússia ter adotado contrassanções para determinados países, teoricamente, deu ao Brasil chance de ocupar aquele espaço."

Mas os dados apontam que, na prática, essa janela de oportunidades poderia ter sido melhor aproveitada. Nem em termos de volume nem de preço as exportações brasileiras para a Rússia cresceram, afirma Castro.
Segundo o especialista, isso se deve à ausência de políticas de comércio exterior voltadas ao fortalecimento de exportações do país. Pelo contrário, é o mercado que dita o fluxo das exportações brasileiras. Nesse sentido, a estagnação das exportações à Rússia se deve a dois motivos complementares.
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Segundo Branco, ainda que a Rússia diversifique seus parceiros comerciais, não há tanto espaço para o crescimento da base de exportação brasileira atualmente. E a Rússia não é apenas uma potência agrícola, como também está próxima de outros países de onde pode importar, como China, Turquia, Cazaquistão e Belarus.
Essa característica primária da economia brasileira também é a razão pelo grande déficit comercial. Enquanto o Brasil exporta commodities, importa produtos com maior valor agregado.
Embora esse perfil das exportações brasileiras torne difícil implementar uma política de valorização do produto, Castro acredita que há algum potencial que poderia ser melhor explorado com as políticas públicas certas.

"Tem potencial para crescer, mas está estagnada."

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