A Comissão de Estratégia de Defesa Nacional (CNDS, na sigla em inglês) dos Estados Unidos apresentou um relatório no final de julho em que alerta que o país norte-americano deve aumentar os gastos com defesa para enfrentar as ameaças globais.
Segundo o relatório, os militares dos EUA carecem, entre outras coisas, "da capacidade de confiança sobre poderem dissuadir e prevalecer no combate".
China e Rússia, os principais riscos
Conforme o documento, "as ameaças que os Estados Unidos enfrentam são as mais sérias e desafiadoras que a nação já enfrentou desde 1945 e incluem a possibilidade de uma grande guerra no curto prazo".
Assim, a China é "a ameaça global e marcante", mas a Rússia é a "ameaça crônica e de reconstituição", enquanto o Irã, a Coreia do Norte e o terrorismo constituem "um eixo de crescentes associações malignas".
"Há uma grande probabilidade de que a próxima guerra seja travada em múltiplos teatros de operações, envolva múltiplos adversários e provavelmente não termine rapidamente", considera o texto.
"Tanto a China como a Rússia têm alcance global por si só e envolveram-se em uma 'amizade sem limites', e alianças adicionais estão a desenvolver-se com a Coreia do Norte e o Irã", acrescenta, alertando que como os "adversários" dos Estados Unidos cooperam mais estreitamente do que antes, Washington e os seus aliados devem estar preparados para um confronto em múltiplas frentes.
Entretanto, para o analista político e acadêmico do Cato Institute, Doug Bandow, "esta lista aparentemente esmagadora de ameaças é muito menor do que parece à primeira vista" e, na realidade, a maior ameaça para os Estados Unidos são os seus líderes políticos e sua necessidade constante de transformar os inimigos de outras nações em seus adversários.
Em seu artigo para o The American Conservative, Bandow argumenta que o terrorismo é um problema interno menor e que a melhor forma de o abordar é "fazer menos no exterior, especialmente quando se trata de missões de bombardeios, ocupações estrangeiras e diversas intervenções que desencadeiam hostilidade estrangeira e ataques de vingança".
Em relação ao Irã e à Coreia do Norte, o analista sustenta que nenhuma destas duas nações tem um interesse intrínseco em confrontar os Estados Unidos. Contudo, se o país norte-americano não estivesse no Oriente Médio apoiando Israel ou as monarquias sunitas do golfo, os aiatolás iranianos não lhe dariam muita atenção.
"Hoje, o governo Biden se prepara para uma guerra com o Irã, não para defender os Estados Unidos, mas sim Israel", afirma o analista.
Enquanto isso, a Coreia do Norte lança ameaças constantes contra Washington porque o país norte-americano ameaça Pyongyang para supostamente defender a Coreia do Sul.
No caso da Rússia, Badow observa que o país da Eurásia não tem conflitos territoriais nem disputas inevitáveis com os Estados Unidos e, de fato, ambos os governos têm cooperado contra o terrorismo islâmico e também no avanço das questões nucleares.
Já em relação à China, que, apesar do que alega a CNDS, o analista alega que o país asiático não representa uma ameaça militar grave para Washington, uma vez que a verdadeira disputa é pelo domínio econômico.
"Pequim tornou-se um grande rival geopolítico. Tem uma economia grande e sofisticada e é a maior nação comercial do mundo. As suas forças armadas ocupam o terceiro lugar no mundo, no meio de uma acumulação contínua de armas nucleares. Uma resposta multinacional e matizada", analisa o especialista.
Para Badow, o relatório da comissão "parece uma longa litania de diatribes militaristas emanadas do complexo universitário de centros de investigação militar e industrial nos Estados Unidos".
Além disso, para o Departamento de Estado, a solução parece sempre "uma escalada militar frenética e uma guerra contra todos". No entanto, embora o mundo possa ser um lugar perigoso, as maiores ameaças aos Estados Unidos não estão no exterior, diz o analista.
"As maiores ameaças aos Estados Unidos são os legisladores em Washington transformarem inimigos de outras nações em inimigos dos Estados Unidos", disse Badow.
"Qual a melhor forma de proteger os interesses norte-americanos? Vamos parar de confundi-los com os desejos de parceiros estrangeiros e as fantasias das autoridades de Washington", conclui.