Panorama internacional

Militares bolivianos reconhecem participação na tentativa de golpe de Estado frustrada em junho

Seis integrantes das Forças Armadas da Bolívia admitiram nesta sexta-feira (23) responsabilidade no movimento de 26 de junho, quando vários chefes militares tentaram derrubar o presidente Luis Arce.
Sputnik
Dois meses após o fracassado golpe de Estado militar, o governo de Luis Arce continua com as investigações sobre 30 pessoas, entre civis e militares, das quais 11 estão na prisão.
Ao todo, cinco dos militares detidos solicitaram à Promotoria a realização de um julgamento abreviado para reconhecer participação nos atos na Praça Murillo, em 26 de junho.
O Ministério do Governo informou à Sputnik que as investigações continuam e estão próximas de serem concluídas. Garantiram que nas próximas semanas haverá novidades sobre o caso, cujo principal responsável até o momento é o ex-comandante-geral do Exército, Juan José Zuñiga.
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Reymi Ferreyra foi ministro da Defesa durante o governo de Evo Morales (2006-2019). Em entrevista à Sputnik, compartilhou suas impressões sobre o ocorrido no dia 26 de junho. Ele lembrou que, em um primeiro momento, acreditou que o ato fosse um protesto, "uma bravata dos militares para evitar a mudança do comandante do Exército".
"Mas havia evidentemente um plano para tomar o poder. Havia todo um movimento prévio, que não chegou a se concretizar", disse o ex-ministro, ao afirmar que o estopim do particular da tentativa de golpe foi a destituição do comandante do Exército, que na época era Zuñiga.
Nos dias que precederam o golpe falho, o então general Zuñiga concedeu várias entrevistas nas quais afirmava que o ex-presidente Morales não poderia mais se candidatar. Afirmou que se o atual presidente do Movimento ao Socialismo (MAS) continuasse tentando se candidatar novamente, seria detido.
Essas declarações foram interpretadas pelo governo de Arce como uma intromissão nos assuntos políticos do chefe militar, o que levou à sua remoção horas antes de dezenas de militares e tanques ocuparem a central Praça Murillo. Um dos veículos foi usado para derrubar a porta do Palácio Quemado, onde funciona o órgão do Poder Executivo.

Queda da tese do autogolpe

Diante das evidências coletadas nos últimos meses, Ferreyra afirmou:
"Não concordo nem é racional pensar que tenha sido um autogolpe. É ilógico. De nenhuma forma seria conveniente para o governo manter esse tipo de conduta. O que menos o presidente Arce precisa é enfrentar uma política de desestabilização para promover a mudança do seu próprio governo".
O ex-ministro comentou que uma das linhas investigativas passa por esclarecer o papel de um grupo interno formado por vários chefes militares: "O movimento que ocorreu parece ter suas raízes em um grupo muito limitado, os Pachajchos, uma espécie de camarilha dentro das Forças Armadas".
Zuñiga foi identificado como um dos líderes desse grupo, que, segundo o ex-presidente Morales, foi criado em 2015 para realizar espionagem ilegal sobre funcionários do governo e outros cidadãos do país.
De acordo com um artigo publicado naquele ano pelo jornal El Deber, Zuñiga, na época chefe do Estado-Maior do Exército, reconheceu a existência dos Pachajchos:
"O grupo é composto por excelentes oficiais, suboficiais e sargentos que trabalham no Estado-Maior. Eles também são vítimas de mentiras e calúnias. Eles trabalham pela pátria, pela instituição".

Leitura errada dos militares

Segundo Ferreyra, os militares não tinham dúvidas de que triunfariam em seu movimento golpista:

"Evidentemente, cometeram um erro de cálculo. Eles exageraram ao avaliar a fraqueza do governo e sobrevalorizavam a possibilidade de que a oposição os apoiasse". Mas "para surpresa deles, nenhum setor nem nenhum opositor os apoiou. Esse fato os desorientou totalmente. Eles acreditavam que aconteceria o mesmo que em 2019 [quando Morales foi derrubado]. Naquela época, amplos setores civis apoiaram as Forças Armadas. Desta vez, isso não ocorreu".

O ex-ministro lembrou que durante o governo de Morales funcionava a Escola de Comando Anti-imperialista, cujos alunos eram chefes militares, "com a ideia de que o povo nunca mais fosse vítima de seus próprios militares, submetidos a interesses de transnacionais ou governos estrangeiros".
Com as mudanças de governo, essa escola foi fechada. "A mentalidade reacionária e conservadora permanece nas Forças Armadas. É o que demonstrou este movimento", considerou Ferreyra.
No dia 1º de agosto, as Forças Armadas anunciaram a demissão definitiva de cinco altos comandantes militares devido à sua participação no golpe fracassado. A eles foram retirados o grau, as honras, os uniformes e todos os direitos a receber qualquer pagamento da instituição militar.
Além de Zuñiga, foram afastados o vice-almirante Juan Arnez, ex-comandante da Armada; o general Marcelo Zegarra, ex-comandante da Aeronáutica; o general Juan Mario Paulsen, ex-inspector-geral do Exército; e o general Franz Ordoñez, ex-chefe do Departamento Terceiro de Operações do Exército.
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