Panorama internacional

'Falta informação e resistência à pressão social', diz analista sobre incêndios no Brasil e Bolívia

Os governos de Bolívia e Brasil concordaram em coordenar ações de enfrentamento aos incêndios que afetam a Amazônia. Até o momento, mais de dois milhões de hectares foram queimados no Estado Plurinacional, principalmente nos departamentos de Beni e Santa Cruz. Do lado brasileiro, já foram consumidos mais de três milhões de hectares.
Sputnik
A Amazônia boliviana constitui 43% do território nacional se levarmos em conta o critério ecológico ou bioma.
La Paz está em diálogo com países da América do Sul, Ásia e Europa, que se comprometeram a enviar bombeiros e equipamentos para enfrentar os incêndios. Ao mesmo tempo, os governos de Luis Arce e Luiz Inácio Lula da Silva detectam e processam os envolvidos na propagação do fogo, tradicionalmente utilizado nesta época do ano para preparar áreas agrícolas.
Representantes de ambas as nações se reuniram recentemente em Corumbá, no estado do Mato Grosso do Sul.

"Analisamos o comportamento do fogo em ambas as fronteiras. Esse problema vem acontecendo desde 12 de agosto. Ainda há fogo na fronteira e também perto dela. Definimos alternativas de intervenção imediata", disse à Sputnik o vice-ministro da Defesa Civil da Bolívia, Juan Carlos Calvimontes.

Segundo previsões de pesquisadores ambientais, setembro e outubro serão os meses mais difíceis para enfrentar o fogo, mas, para o vice-ministro, "este mês [agosto] é o mais crítico, porque o período das queimadas e o fogo provocado pelos agricultores foi antecipado devido ao comportamento do tempo".

Ainda segundo Calvimontes, "a China e outros países nos dão apoio em equipamentos. Com a França, por exemplo, temos um acordo de trabalho porque eles formam os nossos bombeiros florestais".

No caso do Chile e de outros países da região, "vamos gradualmente ver a necessidade de enviarem tropas. Agora acreditamos que não estamos em um nível tão crítico, mas talvez mais tarde precisaremos do seu apoio".
No imediato, as ações da Bolívia e do Brasil terão como objetivo fundamental proteger a Área Natural de Manejo Integrado San Matías (ANMI), de 30 mil hectares, na fronteira entre Santa Cruz e o Brasil.
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A Sputnik também conversou com o pesquisador Stasiek Czaplicki Cabezas, que avaliou o panorama e destacou que, além das ações de curto prazo entre os dois países, é necessário um planejamento de longo prazo, considerando que a região amazônica sofre incêndios todos os anos nesses meses.
O pesquisador, que é economista ambiental, identificou fatores que afetam tanto os incêndios no Brasil quanto os da Bolívia.

"Há um processo muito severo de desmatamentos e incêndios [...]", disse o pesquisador acrescentando que as chamas são provocadas pelo avanço da fronteira agrícola: "São incêndios recorrentes que entram na área do Pantanal [compartilhada pelos dois países]. São incêndios que sabemos que ocorrem entre junho e outubro, muitas vezes vêm do Brasil, é o que sempre nos diz a análise das cicatrizes dos incêndios. Não vai mudar, além do acordo entre Brasil e Bolívia", afirmou.

O analista explicou que a chegada do fogo à Bolívia era esperada desde junho passado: "Já sabíamos, mas não podíamos fazer nada, nem o governo brasileiro. Fogo com frente de mais de 50 quilômetros."
Czaplicki comentou que a estratégia atual consiste em tentar conter o fogo até que cheguem as chuvas do próximo mês de outubro: "Nossos bombeiros trabalham para evitar que as casas queimem, mas de forma alguma têm poder para apagar os incêndios. Só quando as chuvas chegarem, que os incêndios serão apagados", disse.
O pesquisador também considerou que falta informação governamental sobre a situação.

"Para ser eficaz, requer um governo boliviano proativo que tenha uma visão de prevenção a médio prazo, que atue com coordenação e que não responda simplesmente à pressão social. Enquanto o governo não adotar esta abordagem, qualquer que seja o acordo, não dará resultados. Em Santa Cruz, quase dois milhões de hectares foram queimados. Sabe-se que no resto do país foram queimados mais um milhão de hectares. Ainda nem começamos setembro e outubro, que são os meses em que queimam as maiores áreas", analisou.

Os governos brasileiro e boliviano também investigam os responsáveis ​​pelos incêndios. A polícia brasileira prendeu dois homens em conexão ao incêndio criminoso em áreas rurais de São Paulo.
O ministro da Defesa boliviano, Edmundo Novillo, disse ao canal estatal Bolivia TV que estão abertos processos criminais contra 51 pessoas, três das quais estão presas por sua responsabilidade nos incêndios descontrolados.
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De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) o Brasil é responsável por quase metade dos focos de queimadas registrados na América do Sul, entre janeiro e agosto. O país contabilizou 115.944 focos apenas em 2024.
Isso corresponde a 46,3% de todos os incêndios na América do Sul, que somaram 250.374. O segundo país com o maior número de incêndios foi a Venezuela, 38.784 focos. A Bolívia foi o terceiro (37.848) e a Argentina, com 17.207 focos, o quarto, mostraram os dados de satélites levantados pelo Inpe e citados pelo portal UOL.
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