O governo venezuelano decidiu neste sábado (7) revogar de maneira imediata a custódia que o Brasil exercia na Embaixada da Argentina em Caracas, bem como a representação de todos os interesses do governo argentino na Venezuela.
"A Venezuela tomou a decisão de revogar imediatamente a aprovação concedida ao Governo da República Federativa do Brasil para representar os interesses da República Argentina e de seus nacionais em território venezuelano, bem como a custódia das instalações da missão diplomática, incluindo seus bens e arquivos, conforme anunciado no comunicado conjunto datado de 5 de agosto de 2024", informou o ministro das Relações Exteriores venezuelano, Yván Gil, em nota divulgada pelo Telegram.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que "o governo brasileiro recebeu com surpresa a comunicação do governo venezuelano".
"De acordo com o que estabelecem as Convenções de Viena sobre Relações Diplomáticas e sobre Relações Consulares, o Brasil permanecerá com a custódia e a defesa dos interesses argentinos até que o governo argentino indique outro Estado aceitável para o governo venezuelano para exercer as referidas funções. O governo brasileiro ressalta nesse contexto, nos termos das Convenções de Viena, a inviolabilidade das instalações da missão diplomática argentina, que atualmente abrigam seis asilados venezuelanos além de bens e arquivos", diz a nota.
O Brasil assumiu a custódia da embaixada da Argentina em Caracas em 31 de julho, quando decidiu defender os interesses diplomáticos de sete países que contestaram o resultado das eleições na Venezuela, entre eles, a Argentina.
Na ocasião, o presidente argentino, Javier Milei, agradeceu ao governo brasileiro pela iniciativa e diplomatas argentinos deixaram a Venezuela. Em paralelo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou as críticas ao processo eleitoral venezuelano.
Na sexta-feira (6), em entrevista a uma rádio, Lula disse que mesmo não aceitando o resultado das eleições na Venezuela não vai romper as relações com Caracas.
Ele definiu a situação venezuelana como um "rolo" e reforçou que não reconhece a vitória de Nicolás Maduro, mas também criticou medidas mais severas, como bloqueios comercial e econômico contra a Venezuela, acrescentando que essas ações punem a população local, e não o governo Maduro.
"Estamos agora em uma posição [conjunta] Brasil-Colômbia. A gente não aceitou o resultado das eleições, mas não vou romper relações. E também não concordo com a punição unilateral, o bloqueio, porque o bloqueio não prejudica o Maduro. O bloqueio prejudica o povo. E eu acho que o povo não deve ser vítima disso", afirmou o presidente.
Em 2 de agosto, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou Maduro o vencedor das eleições de 28 de julho, com 52% dos votos.
No dia seguinte, protestos por parte da população que discordou do resultado nas urnas acabaram em confrontos com as forças de segurança. Policiais detiveram mais de 2 mil pessoas, acusadas de destruir infraestruturas estatais, incitar o ódio e o terrorismo.
Maduro pediu, em 31 de julho, proteção constitucional ao Supremo Tribunal para impedir os ataques ao processo eleitoral, que ele chamou de tentativa de golpe.
Posteriormente, em 17 de agosto, milhares de venezuelanos marcharam em Caracas para expressar apoio à reeleição de Maduro e o repúdio à violência.