"Esse tratado tem sido utilizado como instrumento, digamos, político, justamente para remover parte dessas autoridades locais […]. Também permitiu uma ingerência muito grande dos Estados Unidos sobre a política local, sob o argumento de que o sistema judiciário de Honduras não seria competente o suficiente ou estaria permeado por narcotraficantes", disse Beatriz Bandeira de Mello, cientista política, doutoranda em relações internacionais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora no Observatório Político Sul-Americano (OPSA).
"A Xiomara veio com essa proposta de concretizar o que seria um socialismo democrático, então a própria identificação do governo com essa vertente política, mais a participação em fóruns multilaterais regionais e essa aproximação com Venezuela, Cuba, provoca essa reação mais, digamos, incisiva do governo dos Estados Unidos."
"Se olharmos para a conjuntura macro e para o posicionamento dos Estados Unidos na região, na verdade uma das grandes preocupações tem sido ultimamente o aumento da presença chinesa", disse ela, ao afirmar que os EUA vivem uma quebra de hegemonia na América Latina.
"Honduras pode se valer disso para poder dialogar com a China e conseguir tentar o melhor dos mundos, ter uma boa relação com os Estados Unidos. Vendo do panorama norte-americano, sem dúvida nenhuma não é do interesse norte-americano."
"Eles realmente têm essa tradição de interferência em assuntos internos de outros Estados […]. A própria deposição de um presidente causa instabilidade na região, impacta negativamente a política interna de um determinado Estado, e pensando em um país da América Central, a saída de cidadãos vai ser estimulada, porque procuram eventualmente ir para os Estados Unidos."
"É importante salientar que existe um acordo de livre comércio que envolve também os Estados Unidos, a América Central e a República Dominicana. É importante também para Honduras continuar esse processo de abertura comercial, por meio do qual Honduras conseguiu nos últimos anos, inclusive, um crescimento do PIB até razoável, em torno de 3%; deve ficar em torno de 3,5% ao longo deste ano."
"A grande questão agora é observar se as instituições vão dar conta de conduzir o processo eleitoral e conter essa crise, mantendo o apoio popular e o legado do [Manuel] Zelaya [ex-presidente de Honduras] e da Xiomara Castro em Honduras", arremata ela.