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Centrão vence as eleições municipais enquanto governo Lula sai 'empatado', observam analistas

Ao podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, analistas apontam que vários partidos do centrão que saíram vitoriosos no pleito integram a base do governo Lula.
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O primeiro turno das eleições municipais, no último domingo (6), se encerrou com uma vitória expressiva de partidos do centrão. O PSD foi o primeiro colocado, conquistando 878 prefeituras, desbancando o MDB, que ficou em segundo lugar, com 847. Em terceiro lugar ficou o PP, com 743 votos, seguido do União Brasil (578).
O PL e o Republicanos também tiveram um bom desempenho, ficando em quinto e sexto, com 510 e 430 prefeitos eleitos, respectivamente. PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, encerrou o pleito com 309, ficando em sétimo lugar, seguido do PSDB (269). O PT foi o nono colocado, com 248 prefeitos eleitos, um aumento em relação às eleições passadas, quando elegeu 179.
Completam o ranking: PDT, com 148 prefeitos eleitos; Avante (135); Podemos (122); PRD (76); Solidariedade (62); e Cidadania (33).
No recorte para vereadores, o PL cresceu 42% em comparação com a eleição de 2020, conquistando 4.929 cadeiras nas câmaras municipais, enquanto o PT cresceu 17%, elegendo 3.118 vereadores neste ano.
Em entrevista ao podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, especialistas analisam o que a vitória do centrão indica para o cenário político atual e que projeções ela traz para as eleições presidenciais de 2026.
Os resultados apontam um crescimento da direita no país, tanto a tradicional quanto a ala mais radical, que ficou popularmente conhecida como extrema-direita, como explica Jorge Almeida, professor de ciência política e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e autor dos livros "Como vota o brasileiro", "Marketing político: hegemonia e contra-hegemonia" e "Turbulências e desafios: o Brasil e o mundo na crise do capitalismo".
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Entretanto, ele aponta que parte da direita que se saiu vitoriosa no primeiro turno compõe a base de sustentação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, citando como exemplo Eduardo Paes (PSD), prefeito reeleito da cidade do Rio de Janeiro, com 60% dos votos.

"O Paes, no Rio de Janeiro, é tradicionalmente uma direita que foi apoiada pelo PT. Não é a extrema-direita bolsonarista, [que] foi derrotada [no pleito da cidade]. O Paes ganhou no primeiro turno, mas não significa que seja uma esquerda […], e isso aconteceu na maioria das capitais e grandes cidades onde o resultado se encerrou com vitória no primeiro turno", explica.

Ele acrescenta que ainda há integrantes da esquerda na disputa do segundo turno e cita como exemplo Maria do Rosário (PT), que disputa com Sebastião Melo (MDB) a prefeitura de Porto Alegre, e Guilherme Boulos (Psol) que foi para o segundo turno pela prefeitura de São Paulo contra Ricardo Nunes (MDB), protagonizando uma disputa voto a voto.
"Esse quadro significa que nós vamos ter um segundo turno disputadíssimo, porque […] São Paulo também tem um sentido simbólico: não é somente a maior cidade do país, mas é historicamente o resultado das eleições. […] Então mesmo que a direita tenha tido uma vitória mais generalizada dentro do país como um todo, se Guilherme Boulos vencer no segundo turno em São Paulo, isso poderá ter um impacto político importante simbolicamente, por conta da importância econômica e política de São Paulo."

Vitória do centrão indica que polarização arrefeceu?

Almeida enfatiza que o bom desempenho do centrão não significa exatamente uma perda de força da polarização. Segundo ele, "houve uma polarização com uma tendência pró-direita e extrema-direita" nas maiores cidades do país.
"Em outras cidades onde não houve uma candidatura de extrema-direita, isso não apareceu. É o caso, por exemplo, de Salvador. Salvador não teve uma candidatura específica da extrema-direita, o grupo pró-Bolsonaro foi incorporado dentro da campanha do Bruno Reis, do União Brasil, e a campanha foi mais do tipo tradicional."
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Ele destaca ainda que no caso do Rio de Janeiro, Alexandre Ramagem (PL) começou com uma intenção de votos muito baixa, tendo crescido nas pesquisas após demonstrar publicamente a associação ao ex-presidente Jair Bolsonaro, alcançando 30% dos votos.
Almeida acrescenta que o exemplo de Pablo Marçal (PRTB) também demonstra a força da polarização ainda presente na sociedade. Segundo Almeida, tendo feito uma campanha permeada com propostas "delirantes" e "mentiras", ele obteve um bom resultado, que colocou em uma saia justa Jair Bolsonaro, que é crítico de Marçal, mas ficou "sem saber muito o que dizer na reta final de campanha, sem querer entrar em conflito com a sua base ideológica mais forte nessa extrema-direita".

"As pessoas, muitas vezes, priorizam a visão ideológica que elas têm do que saber qual é a proposta do candidato. Independentemente de ela achar, por exemplo, que um prefeito fez um bom governo ou não, ela vai votar naquele candidato porque é com quem ela se identifica ideologicamente", afirma.

O que os resultados projetam para as eleições de 2026?

As eleições municipais são uma espécie de censo das forças políticas do país que possibilitam projetar as eleições presidenciais, previstas para 2026. É o que aponta Antonio Lavareda, cientista político e presidente do conselho científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe).
Segundo ele, apesar da polarização e do crescimento da direita tradicional e radical, Lula saiu "empatado" do pleito. Isso porque vários partidos conservadores que se saíram vitoriosos, como PSD, Republicanos e PP, "integram a base do governo Lula".
Ele afirma que do ponto de vista dos governadores que são cogitados como presidenciáveis em 2026, os resultados do pleito enfraquecem Ciro Gomes, que tem disputado o Planalto reiteradamente desde 1998, mas que viu seu partido, o PDT, cair de 311 prefeitos eleitos em 2020 para atuais 148; e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que não conseguiu levar seu apadrinhado Mauro Tramonte (Republicanos) para a disputa de segundo turno.
Também saiu enfraquecido o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que não conseguiu levar Juliana Brizola (PDT) para o segundo turno. Nesse caso, Lavareda aponta que a derrota de Leite reflete a perda de força do PSDB, que encolheu 49% frente ao pleito de 2020, caindo de 512 prefeitos eleitos no pleito anterior para atuais 269.
Em contraponto, sai fortalecido o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), que conseguiu levar seu apadrinhado Eduardo Pimentel (PSD) para a disputa de segundo turno.

"Então qual é o pré-candidato [à Presidência] que despontou com força? Eu digo pré-candidato cogitado como tal. É o governador Tarcísio de Freitas [Republicanos], de São Paulo, que em uma eleição que chamou muita atenção do país, uma eleição que se tornou extremamente difícil, sobretudo na reta final, conseguiu levar ou ajudar a levar o prefeito Ricardo Nunes, seu aliado, para o segundo turno", afirma.

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