Panorama internacional

Eleições na Geórgia: resultado aponta que população busca equilíbrio entre Rússia e UE, diz analista

Após os resultados das eleições parlamentares na Geórgia, nesta segunda-feira (28), atiradores treinados na Ucrânia estão chegando ao país para organizar provocações durante protestos em massa, segundo fontes da Sputnik.
Sputnik
As eleições parlamentares foram realizadas na Geórgia neste sábado (26) e, de acordo com a Comissão Eleitoral Central (CEC), o partido governante desde 2012, Sonho Georgiano, foi o mais votado, com 54% dos votos.
Em entrevista para o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, a professora do curso de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Danielle Makio opinou que o resultado não surpreende.
Segundo a professora — também mestra em relações internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas e pela Universidade KIMEP, do Cazaquistão, e em estudos russos e eurasiáticos pela Universidade de Glasgow —, o Sonho Georgiano vem conseguindo lidar com agendas conflitantes, mantendo relações com a Rússia e buscando melhorar as relações com o Ocidente:

"A lição [que] fica [é] que realmente a Geórgia não é tão pró-Ocidente como se esperava, o que também não significa que ela é pró-Rússia; significa que a população entende que é preciso um equilíbrio", opinou.

Ela destacou que a Rússia continua a ser um parceiro econômico fundamental para a Geórgia, responsável por mais de 20% do gás natural consumido na Geórgia. "[…] é importante lembrar que esse gás é muito mais barato comprado da Rússia. […] há incentivos governamentais, justamente por uma questão de transporte."
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Makio lembrou que recentemente foi formalizado o aceite do início do processo para a adesão da Geórgia à União Europeia (UE).
Para ela, por mais atraente que seja para o país integrar a UE, não é interessante para a sociedade georgiana virar as costas para a Rússia, que "vem cada vez mais despontando como grande ator anti-hegemônico junto da China". Os eleitores, segundo ela, sinalizaram que o momento exige um equilíbrio estratégico entre UE, Estados Unidos e Rússia.
Por outro lado, o Serviço de Inteligência Externa da Rússia (SVR, na sigla em russo) havia apontado que ONGs pró-ocidentais teriam recrutado um grande número de pessoas para monitorar de perto as eleições parlamentares, a fim de descredibilizar o pleito.

"Há, sim, uma tendência de maior influência do Ocidente, sobretudo via instituições como ONGs, que têm grande presença em todo o território georgiano. Há uma tendência de aproximar a opinião pública daquilo que a gente entende enquanto um arcabouço ideológico, ideacional, ocidental, que se distancia um pouco daquilo que é a agenda política de Moscou", opinou a especialista.

Em 2003, a Geórgia passou pela chamada Revolução Rosa, que sofreu ingerência de poderes estrangeiros sobre a definição da política nacional, e que culminou com um golpe, no qual o governo foi assumido por um dos líderes insurgentes, Mikhail Saakashvili, que ficou no poder até 2012, quando o partido Sonho Georgiano ganhou as eleições.
A reação do Ocidente em relação às eleições da Geórgia, segundo Makio, aponta para uma vilanização sistemática da Rússia, sobretudo devido à postura de abstenção cautelosa da Geórgia em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia:

"Entendo que essas denúncias [da oposição e do Ocidente] servem também como um propósito político de fortalecer a liberal democracia ocidental, mas me pergunto se em alguma medida não pode ser um tiro pela culatra, à medida que dá mais fôlego para aqueles que partilham dessa visão de vilanização extrema da Rússia, que coloca o Ocidente no posto de quem deve ser questionado", comentou ela. "[…] não me parece que os resultados desta eleição podem ser mudados por vias pacíficas, por vias legais, enfim, sem causar um grande rebuliço na sociedade", comentou a entrevistada.

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