Panorama internacional

Centenas de militares dos EUA chegam ao Peru: protocolo ou marketing contra a China?

O Peru aprovou nesta quinta-feira (31) a entrada de 600 militares americanos com "armas de guerra" para garantir a segurança do presidente dos EUA, Joe Biden, na cúpula de 2024 da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês), embora sua presença não esteja confirmada.
Sputnik
Em texto, o governo aponta cerca de 600 efetivos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que permanecerão no país entre 4 e 24 de novembro para "realizar atividades de apoio antes, durante e depois do desenvolvimento" do evento da APEC.
A cúpula, que reunirá 21 países, ocorrerá entre os dias 14 e 16 de novembro. Até o momento, a visita mais relevante confirmada é a do presidente chinês, Xi Jinping, que também participará da inauguração do porto de Chancay, projetado para concentrar o comércio com o gigante asiático.
De acordo com o analista peruano e especialista em defesa Martín Manco, ouvido pela Sputnik nesta quinta-feira (31), Washington vê "com preocupação" a inauguração de um megaporto chinês na cidade peruana de Chancay.

"Definitivamente os EUA ainda seguem a Doutrina Monroe, através da qual veem a América Latina como seu quintal. É uma zona de influência onde a China tem penetrado nos últimos anos, expressa nesse megaporto que será inaugurado no dia 15 de novembro", apontou Manco.

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Em declarações à rede peruana RPP, Carlos Vásquez Corrales, presidente das Reuniões de Altos Funcionários da APEC, afirmou que a visita do americano tem "95% de chance" de se concretizar.
Um detalhamento das unidades que entrarão no país dá conta ainda de dois aviões Boeing 747-200B; quatro helicópteros Blackhawk MH-60, quatro aviões E-3G, de alerta precoce e controle aerotransportado; e quatro aviões-tanque KC-135 ou KC-10.
Os soldados também estarão armados com rifles de precisão, metralhadoras M249 SAW e Dillon, e fuzis M4. O contingente incluirá ainda equipes especializadas em desativação de explosivos.
Manco ressaltou, no entanto, que a magnitude da delegação americana não deve surpreender, já que é semelhante ou até inferior àquelas que presidentes dos EUA como George Bush ou Barack Obama mobilizaram em visitas anteriores a Lima para cúpulas da APEC.
Ele lembrou que Bush ficou alojado em um de seus porta-aviões durante sua visita à capital peruana para a cúpula de 2008.
O presidente Joe Biden fala a repórteres antes de embarcar no Air Force One, avião oficial da Casa Branca, para uma viagem a Los Angeles, onde participaria da Cúpula das Américas. Base aérea de Andrews, Maryland, 8 de junho de 2022
De qualquer forma, a chegada de uma delegação militar tão numerosa gera expectativa no Peru, que não apenas enfrenta problemas de segurança nas últimas semanas, mas também tenta lidar com uma paralisação nacional convocada por transportadores e comerciantes descontentes com o aumento das extorsões e a política criminal do governo da presidente Dina Boluarte.

"Essa chegada ocorre em um contexto em que o Peru não está em uma situação tão calma como em outras épocas. A conjuntura é marcada por marchas e greves, e pela afirmação do governo de que aqueles que protestarem durante a APEC serão considerados 'traidores dos interesses da pátria'", destacou.

Nesse sentido, o especialista considerou que uma série de protestos durante a APEC "geraria instabilidade para a segurança" e poderia ser interpretada como "um puxão de orelha" na gestão de Boluarte e seus interesses de "mostrar o Peru como um país emergente com uma economia estável".
Assim, Manco afirmou que os efetivos americanos darão às ruas de Lima uma aparência de "militarização", com grandes cordões de segurança montados pelos militares e pela polícia peruana.

Jogada de marketing?

A chegada de um vasto e munido contingente militar americano ao Peru pode também ter a intenção de reforçar a cooperação entre Washington e Lima em questões de segurança, em um momento em que o país sul-americano necessita e busca contrabalançar os avanços comerciais que a China quer destacar durante a APEC.
Manco estimou que os EUA também podem estar buscando "fazer um pouco de marketing" em favor de seu complexo militar-industrial, agora que as Forças Armadas do Peru, por exemplo, buscam adquirir 24 caças. Embora haja várias ofertas em discussão, Manco lembrou que os aviões F-16 Block 70 americanos aparecem entre os favoritos.
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