Fim da escala 6x1: 12 países que testaram com sucesso a redução na jornada de trabalho

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que pede o fim da escala 6x1, substituindo-a por uma jornada laboral de no máximo 36 horas semanais, com quatro dias de trabalho, tramita na Câmara dos Deputados acompanhada de forte debate entre a população.

A medida, no entanto, já é adotada por muitos países ao redor do mundo, como forma de preservar a saúde mental dos trabalhadores e elevar a produtividade. Isso porque estudos apontam que a carga excessiva de trabalho reduz o rendimento e aumenta o risco de burnout.

Em fevereiro, o governo alemão, em parceria com a iniciativa 4 Day Week Global, realizou um experimento com 45 empresas para testar a jornada 4x3, ou seja, quatro dias de trabalho e três de folga.

Após o período de teste, 73% das empresas decidiram manter a escala. Mais de 90% dos funcionários relataram melhora no bem-estar, e as empresas afirmaram não ter sentido impacto financeiro e na produtividade e registraram maior facilidade para contratação de talentos. Os demais 20% retornaram à escala 5x2, a mais comum em outros países.

Em agosto de 2022, 20 empresas australianas implementaram um teste de seis meses, substituindo a tradicional escala de 5x2 do país, à qual funcionários estão acostumados, pela 4x3.

Como resultado, as empresas relataram uma redução de 44,3% em afastamento por doença e 95% das empresas afirmaram pretender manter a jornada 4x3.

No primeiro semestre de 2022, o governo belga introduziu uma reforma trabalhista que concedeu aos trabalhadores a opção de escolher entre a escala vigente de 5x2 e a 4x3, contanto que fosse mantida a carga horária de 40 horas de trabalho semanais.

Na época, parlamentares afirmaram que o objetivo da reforma era trazer equilíbrio entre a vida pessoal e profissional a trabalhadores dos setores público e privado.

Desde 2022 empresas canadenses adotam a jornada 4x3. Segundo Joe O'Connor, CEO de uma organização especializada no tema, responsável pelo projeto-piloto no país, a medida representa uma nova fronteira de competição entre empresas, com mais foco na produtividade do que em horas trabalhadas.

Na década de 1930, a Dinamarca começou a substituir sua escala 6x1 pela 5x2, que atualmente se tornou padrão.

Apesar de não ter adotado oficialmente a escala 4x3, a maior parte do país tem uma das menores jornadas de trabalho do mundo, com apenas 33 horas trabalhadas por semana.

Tradicionalmente, os Estados Unidos têm uma jornada de trabalho de cinco dias semanais, mas o país vem cogitando a implementação da escala 4x3.

O país participou do projeto-piloto da escala em 2022, junto com o Canadá, e como resultado houve uma melhora na saúde física e mental dos trabalhadores e redução no custo com cuidados infantis.

No ano 2000, o governo da França instituiu uma jornada de 35 horas de trabalho, que pode ser das 08h00 às 16h00 ou das 09h00 às 17h00, com intervalo de uma hora de almoço não remunerado. Pela lei, as 35 horas semanais são divididas em 7 horas diárias, e mais do que isso já é considerado hora extra. O máximo de horas trabalhadas por um funcionário são 10.

Entre 2015 e 2019, a Islândia testou a implementação da jornada 4x3. O teste foi considerado um sucesso, e a escala passou a ser padrão no país. Hoje 90% da população do país trabalha com uma escala reduzida.

Atualmente, as regras são definidas em negociações coletivas com sindicatos de cada categoria. Recentemente, em entrevista ao portal g1, o brasileiro Pietro Pirani, que mora na Islândia há dois anos, relatou sua experiência com a jornada de 36 horas semanais.

Em dezembro de 2022, a Irlanda testou a escala 4x3. O objetivo era determinar se a escala reduzida de fato contribuiria para o bem-estar e a produtividade dos funcionários, bem como para a redução das emissões de carbono.

Como resultado, houve um aumento de 37,55% nas receitas das empresas, em comparação ao mesmo período do ano anterior, uma tendência positiva nas contratações e uma ligeira queda nos afastamentos e pedidos de demissões.

Conhecido por sua cultura de trabalho, com longas horas de sacrifício pela empresa, o Japão vem encorajando a adoção de uma jornada mais curta pelos empregadores.

Em 2021, o governo local endossou oficialmente a proposta, com a iniciativa intitulada "hatarakikata kaikaku" (inovar como trabalhamos, em tradução livre). Ela incentiva empresas a reduzirem a jornada de trabalho, limitarem o número de horas extras e oferecerem acordos de trabalho flexíveis. O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do país passou a oferecer consultoria gratuita para motivar empresas a adotarem a escala reduzida.

No caso japonês, a medida visa reduzir o alto número de mortes registradas no país relacionadas a excesso de trabalho, com uma média de 54 anuais. A iniciativa também visa incentivar a população a ter mais filhos, uma vez que o Japão enfrenta um grave declínio populacional, que reduziu significativamente o número de trabalhadores ativos.

Os Países Baixos têm uma jornada de trabalho de apenas 29 horas semanais. Isso se deve em parte à legislação, que oferece aos trabalhadores o direito de um expediente de meio período.

Ademais, pela lei os trabalhadores não podem ser obrigados a trabalhar aos domingos, não podem ultrapassar 60 horas de trabalho semanais nem trabalhar mais de 12 horas em um único dia.

Com uma jornada oficial de 5x2, o Reino Unido implementou entre junho e dezembro de 2022 um experimento com 30 empresas para testar a jornada 4x3. Após o teste, 92% das empresas optaram por manter a nova configuração, apontando uma receita 1,4% maior, aumento da produtividade dos funcionários e queda de 57% no número de demissões durante o período de teste.