Segundo pesquisa publicada na revista científica Antiquity na segunda-feira (16), ossos humanos encontrados no território de Charterhouse-Warren em Somerset, no Reino Unido, há meio século e que remontam à Idade do Bronze, indicam pelo menos um caso de assassinato em massa e canibalismo entre humanos.
"Pelo menos 37 homens, mulheres e crianças foram mortos e massacrados, seus restos desmembrados jogados em um poço natural de 15 m de profundidade, no que é mais plausivelmente interpretado como um único caso", escreveram os pesquisadores.
No primeiro grande estudo desde a descoberta dos restos mortais de 1970, os cientistas concluíram que os ossos encontrados durante a escavação das mãos e pernas têm traços de mastigação por dentes humanos. Os ossos também foram cortados após a morte das vítimas para extrair a medula óssea.
Marcas de corte no úmero distal esquerdo
© Foto / Schulting et al. Antiquity, 2024
Além disso, os crânios mostram sinais de traumatismo contundente e morte violenta, em contraste com a maioria dos enterros contemporâneos. Centenas de esqueletos humanos entre 2500 e 1500 a.C. já foram descobertos no Reino Unido, mas não houve muitas provas concretas de conflitos violentos até agora.
As aldeias no início da Idade do Bronze no Reino Unido eram compostas por cerca de 50 a 100 pessoas, então os especialistas acham que isso poderia ter sido equivalente à eliminação de quase uma comunidade inteira.
No total, mais de 3.000 ossos e seus fragmentos foram encontrados no local da escavação e os traços de canibalismo em muito se diferem de comportamentos envolvendo rituais funerários, segundo os pesquisadores.
Exemplos de crânios do conjunto, com evidências de traumatismo por força bruta e marcas de corte
© Foto / Schulting et al. Antiquity, 2024
A hipótese dos pesquisadores é de que as vítimas tenham sido feitas em função de conflitos sociais, uma vez que junto aos ossos humanos havia abundantes ossos de gado, o que sugere que as pessoas em Charterhouse-Warren tinham muito o que comer sem precisar recorrer ao canibalismo.
Mesmo que de forma ainda inconclusiva, é possível que ao comer a carne dos falecidos e misturar os ossos com restos de outros animais, os assassinos estavam comparando seus inimigos a animais, desumanizando-os, escreveram os autores da pesquisa.