Analistas: relações externas que amarram economias da América Latina impedem crescimento sustentado
20:50, 18 de dezembro 2024
Cenário internacional, dependência de demanda externa, aumento do consumo privado como motor principal. Esses são os fatores que contribuem para a previsão de baixo crescimento das economias da América Latina e do Caribe para 2024 e 2025.
SputnikO relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) para 2024 e 2025 destaca que a América Latina e o Caribe continuarão em uma trajetória de baixo crescimento econômico, com projeções de 2,2% em 2024 e 2,4% em 2025, números semelhantes aos de 2023 (2,3%).
A previsão de crescimento da
economia latino-americana para os próximos anos, apresentada pela CEPAL, foi recebida com ceticismo por especialistas e analistas que a consideram um reflexo das dificuldades estruturais de uma região marcada pela dependência de fatores externos.
Participação reduzida
Essa tendência reflete a participação reduzida da região no crescimento da economia global, segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
O crescimento econômico mundial projetado para 2025 é de 3,2%, impulsionado principalmente pelas economias emergentes da Ásia, com expansão estimada de 5%. Contudo, a desaceleração dos Estados Unidos e da China, principais parceiros comerciais da região, tende a reduzir a demanda externa, prejudicando as exportações latino-americanas.
"Esse contexto indica que não haverá booms comerciais similares ao efeito China da primeira década dos anos 2000. Além disso, destacaria um contexto de tendências protecionistas, especialmente nos EUA, e de menor integração comercial. Diante disso, a América Latina e o Caribe precisarão buscar estratégias para fortalecer suas economias internas e diversificar suas exportações", explicou Diana Chaib, economista e pesquisadora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG).
Segundo Fágner João Maia Medeiros, também pesquisador do mesmo centro que Chaib, a dependência de demanda externa impacta diretamente o resultado divulgado pela CEPAL.
Ele complementa dizendo que "o relatório da CEPAL revela que, após a forte contração econômica causada pela crise da pandemia de COVID-19, a América Latina conseguiu recuperar os níveis de PIB [produto interno bruto] do quarto trimestre de 2021, que estavam próximos aos níveis anteriores à crise. Contudo, ao longo do período de 2015 a 2024, o PIB per capita da região apresentou uma tendência de queda, com a recuperação deste indicador só ocorrendo no quarto trimestre de 2024, após 36 trimestres".
Chaib pontua que "esse fenômeno indica a dificuldade estrutural das economias latino-americanas em manter um crescimento sustentado e de retomar os níveis de renda anteriores à crise. Em 2024, o PIB per capita da América Latina é o mesmo registrado no final de 2015, refletindo uma recuperação lenta e limitada, com desafios significativos para estimular o crescimento econômico na região".
Dependência da exportação de commodities
A doutoranda em relações internacionais e secretária executiva da Organização Continental Latino-Americana e Caribenha de Estudantes (Oclae), Amanda Harumy, destacou que o crescimento projetado para a América Latina é, na verdade, "baixo e não traz elementos de surpresa, mas sim reforça aspectos estruturais da economia da região que dificultam o crescimento e a redução da desigualdade social".
Segundo a internacionalista, a dependência da exportação de commodities continua a ser um dos principais entraves para uma evolução econômica sólida e resiliente.
"A dependência do PIB de setores vulneráveis a oscilações internacionais é um problema grave", afirmou, referindo-se à volatilidade dos preços das commodities, que afeta diretamente as economias locais.
Ela enfatiza a "dependência histórica e estrutural" da América Latina de organismos financeiros internacionais e da dívida externa. "Essas relações, que amarram as economias da região, são parte de um ciclo vicioso que torna a superação dessas dificuldades um desafio contínuo", pontuou.
A questão da dívida externa, somada à dependência de bancos internacionais, perpetua uma fragilidade econômica que precisa ser revista, de acordo com a especialista.
Novas lideranças
O impacto das novas lideranças da América Latina, segundo analistas ouvidos por esta agência, será decisivo para o futuro econômico da região.
"A Argentina, por exemplo, ao apostar [outra vez] na liberalização comercial e financeira, poderá se tornar ainda mais dependente da demanda externa, que não apresenta sinais de ser relevante no curto prazo para impulsionar o crescimento. O Brasil, por sua vez, aposta no plano 'Nova Indústria Brasil', que busca estimular a industrialização, promover a inovação e fortalecer o setor produtivo, mas seus resultados dependerão de um ambiente macroeconômico mais estável e de ações consistentes de implementação", analisou Medeiros.
"Além disso, será crucial que essas lideranças promovam esforços coordenados para uma melhor inserção internacional, atraindo volumosos projetos de
investimento da China e outros parceiros estratégicos, bem como avançando na modernização e ampliação da infraestrutura regional. Apesar dos desafios estruturais e das incertezas globais, uma reorientação estratégica, apoiada em políticas econômicas efetivas e transformações estruturais profundas, é essencial para romper com as limitações históricas e garantir um crescimento sustentável para a região", complementou a economista Diana Chaib.
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