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Bolívia: por que país não lidera produção de lítio, apesar de ter as maiores reservas?

A Bolívia detém a maior reserva mundial de lítio, um mineral estratégico para a transição energética global, essencial em tecnologias como baterias de carros elétricos e dispositivos eletrônicos.
Sputnik
Localizada no Salar de Uyuni, no sudoeste do país, essa riqueza mineral coloca a Bolívia no centro das atenções econômicas e geopolíticas. No entanto, o país enfrenta grandes desafios para transformar seu lítio em um motor de desenvolvimento sustentável sem cair nas armadilhas do extrativismo, um modelo que historicamente tem limitado os benefícios das riquezas naturais à população local.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o doutor em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) Mario Tito Almeida explicou as dinâmicas complexas que envolvem o lítio na Bolívia.
"A Bolívia tem a maior reserva de lítio do mundo, no Salar de Uyuni, mas quando falamos de produção, o país não está entre os maiores produtores, como a Austrália e o Chile, que dominam a extração", disse Almeida.
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A principal diferença entre a Bolívia e esses outros produtores, como a Austrália, está na geologia e na forma de extração, segundo o especialista.
"A Austrália tem o lítio em forma rochosa, o que permite uma extração mais convencional, enquanto o lítio da Bolívia está em grandes volumes de água salgada, o que exige uma tecnologia muito mais especializada para a sua extração."
A alta demanda global por lítio, impulsionada pela crescente transição para fontes de energia limpa, coloca o mineral como elemento-chave na geopolítica mundial. No entanto, essa busca por recursos traz consigo questões ambientais e sociais.
"A extração do lítio, mesmo quando voltada para a energia limpa, pode gerar sérios impactos ambientais, especialmente em regiões como o altiplano andino, onde a Bolívia está situada", afirmou Almeida.
O uso de grandes volumes de água e a contaminação de ecossistemas locais são alguns dos principais desafios enfrentados pelo país. "Esse é um dilema porque, de um lado, o lítio pode ser uma chave para a transição energética e para o futuro sustentável, mas, de outro, a extração gera impactos ambientais significativos", completou.
Além disso, a Bolívia lida com pressões externas de potências como os Estados Unidos, que veem o lítio boliviano como oportunidade estratégica. "A relação entre a Bolívia e os Estados Unidos tem sido marcada por disputas sobre a nacionalização dos recursos minerais", destacou Almeida.
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"O governo boliviano, especialmente sob a presidência de Luis Arce, busca manter o controle sobre a extração, mas enfrenta a resistência das potências que desejam acessar esse recurso de forma mais livre."
Segundo ele, a instabilidade política na Bolívia tem dificultado a atração de investimentos necessários para o desenvolvimento tecnológico e a exploração sustentável do lítio. "A instabilidade política é um grande obstáculo, pois gera incertezas que afugentam os investidores estrangeiros, que preferem países mais estáveis", pontuou.
A professora Elaine Santos, mestre em energia pela Universidade Federal do ABC (UFABC) e pós-doutoranda no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), compartilhou insights valiosos sobre o papel da Bolívia no cenário global de lítio e os caminhos que o país busca seguir para assegurar que sua riqueza mineral beneficie, de fato, a população local.
"Hoje, as baterias de lítio que usamos em nossos celulares e carros vêm do Chile e da Austrália", afirmou a professora, sublinhando que a Bolívia tem buscado um modelo diferente, focado na soberania e no nacionalismo.
"A Bolívia tem uma postura de soberania e de nacionalismo. Mesmo quando estabelece parcerias, como com a China, a Rússia ou a Alemanha, a ideia é que os recursos e as tecnologias permaneçam no país."
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