Diante dessa situação, surge a questão sobre o futuro da economia brasileira e a possibilidade de reduzir a dependência do mercado norte-americano. Para isso, muitos veem o BRICS como alternativa estratégica.
De acordo com a diretora adjunta do BRICS Policy Center, Maria Elena Rodriguez, o Brasil tem avançado na diversificação de seus parceiros comerciais, buscando ampliar relações comerciais com outras potências além dos Estados Unidos.
Ela avalia que, apesar de a China ser o maior parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos ainda ocupam a segunda posição e possuem uma importância estratégica considerável, não apenas como compradores de produtos primários, como petróleo e açúcar, mas também como grandes investidores no país, com destaque para áreas como energia limpa, tecnologia e mineração.
"Os Estados Unidos são o nosso segundo parceiro comercial, e eles são bem importantes, ou seja, têm uma centralidade bastante grande, uma centralidade de anos. […] Sempre importante encontrar novos parceiros comerciais, sobretudo para diversificar nossos produtos que, como todos sabemos, a gente está muito refém de nossas exportações, basicamente de produtos primários", avaliou à Sputnik Brasil.
Embora o BRICS — grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia, Irã e Indonésia — tenha apresentado avanços no comércio intragrupo, a especialista aponta que ainda é cedo para afirmar que a relação com os países do BRICS poderia substituir o comércio com os Estados Unidos.
O Brasil tem experimentado um aumento significativo nas trocas comerciais com países como Rússia, China e Índia, mas a maior parte de suas exportações permanece dependente de produtos primários.
Além disso, segundo pontuou, a economia norte-americana, por ser a maior do mundo, ainda exerce uma influência dominante. Mesmo que o Brasil consiga ampliar suas exportações e diversificar suas relações comerciais, o impacto imediato das taxas e sanções dos EUA ainda pode ser significativo.
Bruno de Conti, professor livre-docente do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon), disse à Sputnik que "a aproximação do Brasil com o BRICS fortalece e traz possibilidades para o país, mas a verdade é que a integração comercial do Brasil com o BRICS ainda é muito baixa — exceção feita à China".
"Eventuais sanções dos Estados Unidos contra o Brasil infelizmente nos atingem, é inegável. Os Estados Unidos ainda são uma grande potência, são a principal economia do globo, se considerado em dólar nominal", argumentou.
Segundo o especialista, a crescente rejeição de muitos países do Sul Global aos Estados Unidos — somada ao distanciamento do país norte-americano em relação às questões globais — abre um espaço crucial para os países que compõem o grupo liderarem uma nova agenda internacional.
Para o professor, o BRICS não deve se isolar ou se tornar um grupo fechado. Pelo contrário, ele defende que o bloco amplie sua representação, incluindo novos países de maneira associada, mesmo que não se tornem membros plenos.
Embora reconheça os desafios que essa expansão pode trazer para a governança interna do grupo, de Conti considera que a diversificação dos membros tornaria o BRICS ainda mais representativo dos interesses e anseios do Sul Global. Isso, por sua vez, fortaleceria a ideia de um sistema multilateral mais justo e equitativo, capaz de contrapor a hegemonia norte-americana.