Panorama internacional

Ignorada pelos EUA, a Europa está acordando para a própria irrelevância, nota analista

Ao podcast Mundioka, analistas explicam que a trajetória de decadência da Europa começou após a Segunda Guerra Mundial e culminou nas atuais negociações para o fim do conflito ucraniano, quando o continente foi excluído das tratativas pelos EUA.
Sputnik
Colocada de lado pelos Estados Unidos nas negociações de paz do conflito ucraniano, após ter sua economia devastada pelo apoio a Kiev, a Europa vive um momento de encolhimento no cenário geopolítico.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas explicam quando a diplomacia da Europa começou a perder relevância e se o distanciamento dos EUA faria bem ao continente.
Carlo Cauti, professor de relações internacionais do Ibmec, afirma que a Europa começa a perder relevância geopolítica após a Primeira Guerra Mundial, e esse processo continua após a Segunda Guerra Mundial.

"A Europa, nos dois conflitos mundiais, literalmente se suicidou em termos geopolíticos, lembrando que a França e o Reino Unido, a Itália e a Alemanha tinham basicamente o domínio quase total da África, de boa parte da Ásia, a Índia, o domínio britânico eram as maiores potências coloniais do mundo", afirma.

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Cauti destaca que a Europa se tornou um campo de batalha durante a Segunda Guerra Mundial e saiu destruída do conflito global. Ele afirma que os britânicos, que formalmente também saíram vencedores do conflito, tiveram problemas econômicos tão sérios que tiveram que manter o racionamento de alimentos até a década de 1950.
"Só os EUA e a União Soviética [URSS], em parte, que foram os verdadeiros vencedores da Segunda Guerra Mundial, e por isso que o mundo se dividiu em um mundo bipolar."
Nesse contexto, ele afirma que a Europa deixou de ser um sujeito geopolítico para se tornar um território dividido por influências dos EUA e da URSS. Posteriormente, nos anos 2000, a crise financeira de 2008 colocou a economia europeia em xeque e seus efeitos reverberam até hoje, na forma de ausência de recursos para financiar os gastos sociais e o Estado de bem-estar social, que era um dos elementos de soft power do continente.

"O soft power europeu é baseado no modo de vida europeu, no bem-estar da Europa, na situação de melhoras das condições humanas, no welfare state, na educação de graça, na saúde pública e uma certa segurança também. Isso tudo está começando a ser colocado em xeque por uma crise econômica que nunca parou desde 2008", destaca o especialista.

Cauti acrescenta que o envelhecimento da população europeia, somado à imigração desenfreada, vem causando sérios problemas de segurança que, por sua vez, contribuem para a ascensão de partidos de extrema-direita no continente.
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Ele afirma que, atualmente, sendo ignorada pelos EUA nas negociações sobre o conflito ucraniano, a Europa está tendo um choque e acordando para a sua própria irrelevância.

"A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está sendo literalmente humilhada por Donald Trump, porque não nas palavras, mas nos fatos, Trump está relembrando o quanto ela é irrelevante no cenário internacional. […] Na Ucrânia, a Europa sequer teria uma voz única, não teria nada para colocar no terreno, sequer dinheiro para colocar na mesa, para ganhar algum tipo de relevância, de margem negocial e, portanto, as negociações de paz vão continuar sendo entre Estados Unidos e Rússia."

Demetrius Pereira, professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, afirma que, entre 1648 e 1815, a Europa teve uma grande liderança mundial, mas entrou em decadência após as duas guerras mundiais, sobretudo após a ascensão dos EUA como potência hegemônica.
"E para isso talvez eles criaram um processo de integração para tentar evitar essa decadência. Então é mais ou menos esse cenário em que a gente se encontra até hoje. Em que há quase uma unipolaridade dos Estados Unidos como a grande potência ali das guerras mundiais e uma decadência europeia", explica.
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Pereira afirma que esse alinhamento da Europa aos EUA foi muito forte durante a Guerra Fria, e ocorreu de forma automática quando eclodiu o conflito ucraniano. Como consequência, países europeus, que dependiam de fontes externas de energia, principalmente da Rússia, tiveram de buscar outros fornecedores, o que encareceu o custo de energia, ou voltaram a usar carvão, que é uma fonte de energia poluente.

"Então esse afastamento dos europeus em relação à Rússia acabou também diminuindo, digamos assim, o crescimento europeu", afirma.

Pereira afirma que três momentos de grande crise de imigração afetaram a Europa. Um deles durante a crise na Líbia, fruto da Primavera Árabe, quando imigrantes partiram do Norte da África em direção à Europa, principalmente por meio da Itália. A segunda, durante a guerra na Síria, também um reflexo da Primavera Árabe. A terceira, durante o conflito ucraniano.
O especialista afirma ainda que o fato de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter colocado a Europa para escanteio nas negociações de paz do conflito ucraniano gerou uma reação do continente, que vem buscando mais integração.

"Então tem sido dito aí que o Trump queria 'Make America Great Again', mas ele está fazendo o 'Make Europe Great Again'. Nunca ninguém fez tanto pela União Europeia como tem feito agora o Donald Trump. Ele tem realmente contribuído para essa maior integração europeia nessa área militar, nessa área geopolítica. Então realmente os analistas têm percebido um pouco isso, que ao se afastar um pouco dos europeus ele acaba realmente unindo ainda mais os europeus e justamente nessa área militar", afirma.

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