Durante anos, cientistas observaram uma estranha oscilação na atmosfera de Titã, a maior lua de Saturno. Novas pesquisas estão começando a desvendar esse fenômeno, revelando que a atmosfera de Titã não gira em sincronia com sua superfície, mas sim se inclina e se desloca como um pião, mudando de orientação com as estações.
Essa descoberta foi feita com base em dados da missão Cassini — uma colaboração entre NASA, Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) e a Agência Espacial Italiana (ASI, na sigla em inglês) — que estudou Saturno e suas luas por mais de uma década.
De acordo com Lucy Wright, principal autora do estudo, algum evento no passado pode ter desviado a atmosfera de Titã de seu eixo de rotação, provocando essa oscilação incomum. A expectativa era de que forças como a gravidade de Saturno ou a posição do Sol influenciassem a direção da inclinação atmosférica, como ocorre em outros corpos celestes. No entanto, os dados mostram que a inclinação permanece fixa, desafiando essas explicações convencionais.
Uma visão infravermelha da lua Titã mostrando detalhes da superfície através da névoa de sua atmosfera
© Foto / NASA/JPL/University of Arizona/University of Idaho
Essa constância na direção da inclinação foi uma surpresa para os pesquisadores. Se fatores externos como o aquecimento solar ou a gravidade de Saturno estivessem no controle, a inclinação deveria variar com o tempo. A ausência dessa variação sugere que há um processo ainda desconhecido atuando sobre a atmosfera de Titã.
A lua se destaca por ser a única lua do Sistema Solar com uma atmosfera densa, composta principalmente de nitrogênio e moléculas orgânicas complexas. Isso a torna um objeto de grande interesse científico, especialmente para o estudo de atmosferas planetárias e da química que pode preceder a vida. A missão Cassini, entre 2004 e 2017, foi fundamental para revelar essas características, incluindo a oscilação atmosférica e fenômenos sazonais como vórtices polares.
A compreensão desse comportamento atmosférico será crucial para a missão Dragonfly da NASA, prevista para a década de 2030. Como os ventos em Titã são muito mais rápidos que a rotação de sua superfície, entender como a atmosfera se comporta ao longo das estações ajudará a planejar com mais precisão a descida e o pouso do veículo explorador.
Segundo o portal Space, Conor Nixon, cientista planetário da NASA, os dados da Cassini ainda oferecem descobertas valiosas mesmo após o fim da missão, demonstrando a importância de revisitar arquivos de dados espaciais com novas perguntas e tecnologias.