O ataque israelense lançado na madrugada desta sexta-feira (13) contra instalações militares iranianas mina a possibilidade de fechar o acordo nuclear que vinha sendo negociado entre Washington e Teerã. É o que aponta, em entrevista à Sputnik Brasil, Camila Munareto, doutora em estudos estratégicos internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa sobre as Relações Internacionais do Mundo Árabe (Nuprima).
De acordo com a pesquisadora, para que o acordo seja efetivado é necessário confiança entre as partes, algo que foi dissipado com o ataque desta madrugada. Segundo Munareto, no momento não há como confirmar se o ataque israelense teve a ciência ou o aval norte-americano, mas as declarações dadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, nas redes sociais horas após o ataque, afirmando que o Irã deve fechar o acordo "antes que seja tarde demais", apontam nessa direção.
"É como se o ataque fosse uma medida coercitiva em relação a possibilitar esse acordo. Só que a gente tem que se questionar se o objetivo americano é negociar com o Irã ou impor um acordo ao Irã. Muitas vezes esse posicionamento [de Trump] acaba indicando que o objetivo seria impor esse tipo de acordo", avalia a pesquisadora.
Entretanto, afirma, se a estratégia de EUA e Israel era pressionar o Irã em direção ao acordo, ela pode ter o efeito contrário, uma vez que a política iraniana tem como base a resistência.
"Na verdade, esse ataque acaba reforçando o que a gente entende dentro da política iraniana como uma política de resistência, que seria a visão iraniana de que eles precisam resistir tanto à presença israelense dentro da região, ao expansionismo israelense dentro do Oriente Médio, quanto resistir também à influência dos norte-americanos nas dinâmicas regionais", explica Munareto.
Nesse contexto, ela afirma que o que pode acontecer é justamente o contrário do esperado por Washington e Tel Aviv, reforçando no Irã a política de resistência e fazendo com que o acordo nuclear não tenha condições de acontecer, "justamente pela confirmação das ameaças e da ampliação dessa desconfiança entre os dois lados que estão negociando".
A pesquisadora avalia que essa eventual estratégia norte-americana pode ser considerada um tiro no pé e aponta que os EUA, não apenas na gestão Trump, mas especialmente nela, tentam impor acordos com as partes que estão dialogando, o que acaba dificultando as negociações. Ela afirma ainda que o ataque pode ser uma tentativa de retirar o foco da questão humanitária na Faixa de Gaza.
"Isso coloca mais uma camada de tensão dentro da região e desvia, de certa forma, um pouco o foco de Gaza, especialmente da questão humanitária em Gaza. A gente pode até pensar se esse não era também um objetivo, quando foi feito esse ataque ao Irã. Então acaba desviando um pouco o foco da questão humanitária em Gaza, que é urgente, que é essencial que seja observada, que seja feito algo em relação a isso", afirma.