Nesta quarta-feira (18), o ex-ministro das Relações Exteriores e diretor da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) em Bruxelas, Aloysio Nunes, representou o Brasil em diálogo com autoridades da Rússia no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF, na sigla em inglês).
Dividindo a mesa com o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia Sergei Ryabkov, Nunes reforçou a autonomia da política externa brasileira, ao repudiar a aplicação de sanções econômicas unilaterais.
"O Brasil, decididamente, não adere às sanções que sejam aplicadas unilateralmente, fora do contexto das Nações Unidas. Essa posição é uma pedra de toque da diplomacia brasileira", disse.
A Sputnik Brasil conversou com exclusividade com Aloysio Nunes, que se mostrou empenhado em garantir a melhor posição para o Brasil na nova ordem mundial que se avizinha. Para ele, Brasil e Rússia são parceiros na construção do mundo multipolar.
"Interessa ao Brasil a ordem multipolar, que não se conforma com a hegemonia. É uma ordem igualitária, em que todos os países têm direito de participar da definição dos destinos do mundo, de buscar no comércio e nos investimentos internacionais aquilo que interessa ao seu povo", disse o ex-chanceler. "Nisso, [Brasil e Rússia] têm visões parecidas".
Nesse sentido, os parceiros do BRICS estão interessados em fortalecer instituições internacionais relevantes, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e as Nações Unidas.
"Vejo com muito pesar a tentativa de excluir a Rússia do Conselho das Nações", lamentou Nunes. "E não vão conseguir, porque a Rússia é muito grande e poderosa. Há países que são pilares da ordem internacional e devem trabalhar para mantê-la."
Durante seu mandato como ministro das Relações Exteriores (2017–2019), Aloysio Nunes trabalhou para estreitar as relações entre Brasil e Rússia. Na época, o presidente Michel Temer fez uma visita de Estado a Moscou em busca de investimentos e novos mercados.
"Nessa ocasião, o presidente [Vladimir] Putin presenteou Temer com cartas trocadas entre o monarca Dom Pedro II e o czar Alexandre III, que hoje são parte do acervo brasileiro", lembrou. "Então vemos que é uma relação antiga, que sofreu percalços na Guerra Fria, mas é retomada com a redemocratização do Brasil."
Atualmente, Brasil e Rússia comercializam produtos estratégicos entre si. Do lado brasileiro, os fertilizantes e o diesel russos garantem a produtividade do agronegócio brasileiro, notou Nunes.
"Isso se chama complementaridade, que dá solidez para a nossa relação política, que é muito boa", avaliou Nunes. "Então não apenas de política vive a nossa relação, mas vive também de uma base material e econômica, que precisa ser desenvolvida."
O ex-chanceler defendeu a atuação de meios de comunicação alternativos, a exemplo da Sputnik Brasil, para enriquecer o debate político nacional.
"Não podemos ser tributários de um discurso único. O mundo é complexo demais para você ter fontes limitadas de informação. Não apenas da mídia tradicional, como também da mídia digital — que na verdade é controlada por grandes empresas, geralmente norte-americanas", disse Nunes. "Então é importante que você tenha novos canais de abastecimento da inteligência brasileira, e a Sputnik contribui para isso."
Ex-chanceler brasileiro Aloysio Nunes em entrevista exclusiva à Sputnik
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A presença de Nunes no SPIEF tem exatamente esse objetivo: avançar o diálogo bilateral com a Rússia. Durante o evento, as autoridades debateram os desafios logísticos e financeiros para fomentar o comércio, atualmente estimado em US$ 12 bilhões (R$ 66 bilhões).
Além de Nunes e do vice-ministro russo Ryabkov, autoridades como o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua, participaram do diálogo. Já o setor privado foi representado pelos diretores do Conselho Empresarial Brasil-Rússia: Andrey Guriev, pela parte russa, e Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC).