'A Ucrânia é descartável, o grande prêmio é o Irã': para onde vai o apoio militar do Ocidente?
Entrevistados pela Sputnik Brasil, especialistas militares acreditam que a guerra no Oriente Médio iniciada por Israel deve prejudicar os esforços militares de Kiev, que já enfrenta o abandono dos Estados Unidos nos últimos meses.
SputnikUma nova frente militar se iniciou na madrugada de 13 de junho, quando
Israel atacou com mísseis e drones alvos militares e civis, e instalações nucleares do Irã, levando a
dezenas de mortos e centenas de feridos já na primeira noite de bombardeios.
Logo em seguida, Tel Aviv recebeu apoio dos Estados Unidos e de outras nações do Ocidente, inclusive na
reunião do G7. O grupo divulgou na declaração final do encontro que
incentiva o "direito de defesa" de Israel, embora o Irã não tenha efetuado o primeiro ataque.
Por outro lado, o mesmo G7 não conseguiu chegar a um texto final em apoio à Ucrânia. De acordo com a imprensa internacional,
os Estados Unidos desencorajaram a "declaração contundente" sugerida pelo Canadá.
É nesse contexto que o militar da reserva da Marinha e autor do canal Arte da Guerra, Robinson Farinazzo, afirma que a "Ucrânia é descartável" neste momento, sendo o Irã o "grande prêmio" nas frentes pelo mundo. Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista classifica a Ucrânia como "putrefata".
"O grande prêmio agora passou a ser o Irã. Se precisar se livrar da Ucrânia, isso é muito fácil de fazer; já está putrefata mesmo. Eles não têm problema."
Também em entrevista à Sputnik Brasil, Pedro Paulo Rezende, especialista em conflitos, equipamentos militares e diplomacia, acredita que esse novo conflito no Oriente Médio pode ser prejudicial às pretensões militares ucranianas.
"Para Israel é tranquilo. Os Estados Unidos estão bancando Israel. Tem uma bateria de mísseis antibalísticos de primeira linha. A Ucrânia, por sua vez, vai ser ajudada pelos europeus. Nesse ponto, a Ucrânia perde", explica Rezende. "Acredito que a Ucrânia vai ser a mais prejudicada."
Para Rezende, com os dois conflitos, precisará haver uma divisão do trabalho. "Estados Unidos estão firmes no apoio a Israel, mas não estão tão firmes em relação à Ucrânia. Mas a Europa apoia em peso a Ucrânia."
Farinazzo explica que os países da Europa Ocidental devem iniciar uma corrida armamentista em breve, com aumento nos gastos de defesa, independentemente da receita desses governos.
"Eles vão se armar até os dentes. Outros países vão seguir o exemplo da Espanha [de aumentar os gastos com defesa], que, convenhamos, não é o país mais rico da Europa."
Longa queda de braço?
Com investimento e apoio ocidental, Israel deve continuar atacando o Irã, no mesmo modus operandi da Ucrânia, patrocinada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), contra a Rússia.
Farinazzo é categórico ao dizer que, por conta própria, "Israel não tem condições de dobrar o Irã" e que, caso Teerã resista pelos próximos meses, o apoio dos Estados Unidos a Tel Aviv pode cair por escassez de matéria-prima para a produção de armas de tecnologia avançada.
"A China restringiu muito as exportações de terras raras dela para os EUA. E você precisa dessas terras raras para fazer os componentes eletrônicos de mísseis, bombas guiadas, aeronaves etc.", comenta o militar da reserva da Marinha, que complementa: "O Ocidente tem um problema. […] Se o Irã resistir, vai ficar muito complicado para os EUA."
Rezende enxerga os dois conflitos como processos de longo tempo. No caso da operação militar especial russa na Ucrânia, o especialista responsabiliza as pressões da OTAN pelo confronto, enquanto aponta um "vitimismo" israelense nas questões de armas nucleares.
"Há muito tempo que a OTAN quer absorver a Ucrânia. A Rússia não oferece ameaça aos países europeus. Quem foi o agressor, nesse caso, foi a OTAN. […] Em relação a Israel, existe um discurso de vitimismo que não é real. Israel tem armas nucleares."
Sobre os ataques de Israel a instalações nucleares do Irã, Rezende os classifica como uma "irresponsabilidade" em níveis humanitários. A república islâmica, lembra Rezende, é proibida de criar armas nucleares a partir de uma fátua emitida pelo líder supremo Ali Khamenei.
"Um país que sofreu ataques de armas de destruição em massa, no caso químicas, na guerra Irã-Iraque, tem que ter a superioridade moral de não apoiar o desenvolvimento de armas de destruição em massa", diz o especialista sobre o pensamento iraniano.
Ainda assim, Teerã tem um grande potencial de enriquecimento de urânio, fazendo com que os ataques norte-americanos e israelenses arrisquem o vazamento de material radioativo.
"É uma total irresponsabilidade de Israel ao atacar sítios de desenvolvimento nuclear no Irã."
Para Farinazzo, os atuais conflitos ao redor do mundo fazem parte do xadrez da geopolítica, no qual os "interesses de grandes financistas estão acima das nações".
"A estratégia dessas pessoas é que elas ficaram 30 anos movendo países para a OTAN para cercar a Rússia. Eles não vão se importar em operar durante mais cinco anos. Para eles isso não é um problema."
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