A imposição da tarifa de 50% sobre a importação de qualquer produto brasileiro foi anunciada por Trump na última quarta (9), dias após o fim do encontro entre chefes de Estado e autoridades dos 11 países-membros e dez países parceiros do BRICS.
O presidente também foi
questionado sobre se a imposição da tarifa unilateral é uma retaliação de Trump à defesa do grupo de uma
moeda para trocas comerciais entre os membros e parceiros. Lula lembrou que o presidente norte-americano já havia feito ameaças sobre a questão.
"Ele chegou a dizer outro dia que, se criar uma moeda, vai punir os países. E nós temos interesse, isso é verdade, em criar uma moeda de comércio. Eu não sou obrigado a comprar dólar para fazer relação comercial com Venezuela, Bolívia, Chile, Suécia, União Europeia e China. A gente pode fazer com as nossas moedas", afirmou.
Lula também comentou o
apoio de Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem afirmou sofrer perseguição política. O petista citou os ataques de apoiadores do republicano contra o Capitólio em 2020,
quando Trump perdeu as eleições para o democrata Joe Biden. "Se o Trump tivesse feito o mesmo no Brasil, estaria sendo processado assim como Bolsonaro", afirmou.
O presidente brasileiro enfatizou também que Bolsonaro enfrenta um processo judicial no
Supremo Tribunal Federal (STF), não um julgamento político.
O presidente Lula também afirmou que a
orientação para a diplomacia brasileira é seguir em diálogo com os Estados Unidos, já adotada desde o anúncio da taxação de 10% sobre os produtos brasileiros. "Nós temos também que recorrer à
Organização Mundial do Comércio e, junto com a entidade, encontrar um grupo de países que também foram taxados e juntamente entrar com um recurso. Se nada disso der resultado,
vamos ter que usar a Lei da Reciprocidade", acrescentou.
Apesar disso, Lula pontuou que o comércio entre Brasil e Estados Unidos representa apenas 1,7% do produto interno bruto (PIB). "Não é essa coisa, que a gente não pode sobreviver sem os Estados Unidos, mas obviamente gostamos de vender. Porém não abriremos mão da reciprocidade."
O presidente Lula também
concedeu entrevista à TV Globo, em que ressaltou o papel do BRICS na construção de um mundo cada vez mais multilateral e negou que as críticas feitas às políticas norte-americanas durante a
Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro tenham levado à decisão de Trump.
Lula afirmou ainda que Trump quer atrapalhar a relação "virtuosa" de 200 anos entre Brasil e EUA, além de ressaltar que é "inadmissível" um presidente de um país tentar interferir no processo judicial de outro. "É hora de mostrar que o Brasil quer ser respeitado no mundo", disse.
Questionado sobre se poderia ter uma ligação telefônica com o dirigente norte-americano, Lula afirmou que neste momento "não tem nada para falar com o Trump", apesar de não descartar uma conversa futuramente.