Segundo ele, houve resistência por parte dos integrantes do grupo artístico. "Nós fomos conter essa empresa e a GCM. E aí a GCM, de forma truculenta, violenta, tirou a gente e lacrou o edifício, que é anexo ao Teatro de Contêiner, começando uma reintegração de posse em um processo que ainda está em andamento."
O processo judicial sobre a ocupação se arrasta há meses. Em maio de 2025, o local recebeu um ofício extrajudicial "dando 15 dias para sair".
"E desde então a gente tem tentado o diálogo com a prefeitura, seja na possibilidade de ficar, seja na possibilidade de sair daqui — daqui, mas para um terreno que respeite a historicidade e a arquitetura desse espaço."
Os artistas dizem não se opor a uma realocação, mas questionam a falta de condições adequadas, o que inclui achar um espaço com características semelhantes às do teatro original, como paredes de vidro e espaço de convivência.
"Estamos na iminência de pedir uma prorrogação de prazo para que a gente não coloque em risco o bem material e imaterial desse espaço, para que a gente tenha mais tranquilidade para sair e para que a gente consiga finalizar os projetos que estão em andamento nesse momento".
A prefeitura alega que o terreno será destinado à construção de moradias de habitação social. Mas, segundo o artista, "não há projeto ainda, e aí eles querem nos tirar a todo custo daqui para fazer política, para entregar tudo isso aqui para o capital imobiliário, em uma suposta revitalização do centro de São Paulo".
"E a gente questiona isso porque há muitos imóveis ociosos no Centro da cidade de São Paulo, passíveis de serem usados por habitação social", acrescentou.
Felipe defende que habitação e cultura caminham juntas. Segundo ele, "pensar habitação também é pensar cultura, pensar segurança, pensar saúde".
"Então todo projeto de habitação deveria [pensar a cultura], a partir do pressuposto do que já existe aqui, por exemplo, o Teatro de Contêiner, que é um dos equipamentos mais importantes do nosso país. Se é um espaço que é referência à arquitetura, que é uma referência em equipamento cultural do nosso país, e ele está sendo tratado com tanta violência, a única explicação que a gente tem é um projeto de extermínio cultural no Centro de São Paulo."
Por fim, o artista aponta o desrespeito às instâncias federais: "É um desrespeito da prefeitura e do governo do estado com o Ministério da Cultura, que já tinha emitido um ofício solicitando prorrogação de prazo por 180 dias para que o governo federal também ajudasse a buscar uma saída; e um desrespeito completo com o Ministério Público, que já estava analisando o inquérito do despejo do teatro. Então todas essas coisas que têm acontecido de forma atropelada mostram a tamanha violência e o ódio que se tem com a cultura, mas mostram também o desrespeito que se tem com as instituições, sejam elas jurídicas, sejam elas políticas".
Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirma ter oferecido terrenos alternativos para a realocação do teatro, mas que os artistas não aceitaram as propostas. O município justifica a reintegração como necessária para viabilizar o programa habitacional e destaca que a decisão judicial deve ser cumprida. Já o Ministério da Cultura e a Fundação Nacional de Artes (Funarte) se manifestaram em defesa do espaço cultural, repudiando a ação da GCM.