Das telas e quadrinhos para as ruas: os personagens da cultura pop que viraram símbolos políticos

"A vida imita a arte" é uma expressão que crescemos ouvindo para justificar situações reais que beiram o inacreditável, as quais pensamos ser possíveis apenas em uma obra ficcional. Essa frase clássica, comumente creditada ao escritor irlandês Oscar Wilde, ganha cada vez mais sentido com o passar do tempo.

Personagens do cinema, das séries e dos quadrinhos deixaram o mundo do faz de conta e se materializaram em símbolos levados a protestos. Hoje, é fácil encontrar em motins ao redor do mundo pessoas usando a máscara de Guy Fawkes utilizada por V, personagem principal do filme "V de vingança", ou até manifestantes maquiados de Coringa.

Nesta lista, a Sputnik Brasil mostra sete figuras da cultura pop que viraram símbolos políticos e ganharam as ruas de cidades na realidade.

Um dos trabalhos mais conhecidos do ator Hugo Weaving é marcado pelo seu rosto por trás de uma máscara. Em "V de vingança", o australiano interpreta o personagem V, caracterizado por ser um defensor da liberdade e pela sede de vingança, como o próprio nome do filme já indica.

O grande sucesso mundial da adaptação dos quadrinhos para o cinema fez com que a máscara, inspirada no rosto do revolucionário inglês Guy Fawkes, se tornasse um símbolo anarquista. Atualmente, o símbolo do disfarce é comumente ligado ao coletivo Anonymous, especializado em ações hackers.

O Coringa é um dos vilões do Batman e por muito tempo foi tratado apenas como um degenerado antagonista do super-herói, fadado ao fracasso em suas ações contra a cidade fictícia de Gotham. Os últimos filmes com o personagem, em especial a película lançada em 2019, dirigida por Todd Phillips, mudaram parte dessa percepção.

A humanização dada por Joaquin Phoenix ao Coringa fez com que o vilão ganhasse camadas, tornando-se um símbolo oprimido que, como resposta, decidiu se rebelar e virar um grande anarquista. A maquiagem de palhaço, o cabelo verde e os ternos chamativos deixaram as telonas e, agora, são vistos em manifestações que pedem revoluções.

Mais uma história em quadrinhos que ganhou adaptação para as telas, "O Eternauta" conta a história de um homem que se vê preso em casa durante uma nevasca mortal em Buenos Aires, na Argentina. No decorrer da história, o personagem principal, Juan Salvo, descobre que alienígenas estão por trás do fenômeno e decide fugir em uma nave com a família, mas, acidentalmente, perde a filha e a esposa em dimensões diferentes.

O criador do quadrinho, Héctor Germán Oesterheld, foi sequestrado e morto pela ditadura argentina 20 anos depois da criação de "O Eternauta". Quatro filhas do autor tiveram o mesmo destino.

A história se tornou um dos símbolos da resistência argentina ao governo de Javier Milei. Manifestantes de diferentes grupos políticos utilizam a máscara de gás de Juan Salvo para protestar contras medidas de austeridade da atual administração da Casa Rosada.

O capitão Monkey D. Luffy é o comandante de um navio pirata em "One Piece", um anime japonês criado no fim da década de 1990. Luffy é conhecido por sua bravura e alegria, e tem como missão principal na animação encontrar um tesouro.

Como todo protagonista precisa de um antagonista, o personagem principal de "One Piece" tem como rival o Governo Mundial, marcado pela corrupção e autocracia.

A bandeira da embarcação de Luffy, preta com uma caveira de chapéu amarelo no centro, foi utilizada nos protestos no Nepal. O símbolo foi hasteado diante do parlamento nacional em chamas, em uma sinalização de que aqueles jovens manifestantes lutavam contra o que eles acreditavam ser um regime opressor.

Não há como falar em cultura pop em 2025 sem citar os memes. Espalhados por toda a Internet, eles podem derivar de vídeos engraçados, publicações atrapalhadas ou até mesmo personagens, como é Pepe, o Sapo.

Criado em 2006, Pepe virou figura certa nas redes sociais nos anos seguintes e, em 2015, passou a ser utilizado por grupos de direita racistas e sexistas. Durante a primeira campanha presidencial de Donald Trump, o sapo também se tornou símbolo dos republicanos.

Sem mais nenhum controle sobre sua obra, utilizada em protestos ao redor do mundo para disseminar o ódio — algo que não era difundido nas histórias originais —, o ilustrador do sapo, Matt Furie, decidiu matar o personagem.

Em meio à Segunda Guerra Mundial, Jack Kirby e Joe Simon criaram o Capitão América, um soldado norte-americano que se torna superpoderoso após receber o Soro do Supersoldado. Desde 1941, o personagem principal da trama, Steve Rogers, se tornou o combatente de todos os inimigos estadunidenses.

É nesse contexto que manifestantes utilizam o capacete e o escudo clássicos do Capitão América para enfrentar os algozes dos Estados Unidos. Reproduções do herói foram vistas na invasão do Capitólio, em 2021, assim como em protestos ao redor do mundo.

O menos conhecido da lista, mas não menos importante, Joe, do anime "Ashita no Joe", é um jovem problemático que impressiona Danpei Tange, um boxeador frustrado. A rivalidade com um valentão e um grande amor fazem com que o protagonista tente se reinventar por meio do esporte.

Com uma vida marcada por dificuldades, Joe inspirou os japoneses com a sua história de superação, em uma caminhada tortuosa até a glória. O contexto do personagem foi utilizado em protestos políticos contra os governos de direita do Japão na década de 1970.