Corrupção expõe fragilidade da Ucrânia e ameaça apoio internacional a Zelensky, aponta analista

A persistência da corrupção nos altos escalões da Ucrânia, mesmo em meio ao conflito contra a Rússia, é considerada por Marco Marsili, pesquisador da Universidade Cà Foscari de Veneza, uma falha crítica que ameaça tanto a credibilidade interna quanto o apoio externo ao líder ucraniano Vladimir Zelensky. O pesquisador lembra que, apesar dos esforços do Escritório Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU, na sigla em ucraniano), os escândalos envolvem figuras próximas ao presidente.

Marsili avalia que os líderes europeus dificilmente abandonarão Zelensky publicamente no curto prazo, mas já há sinais de mudança. "A política do cheque em branco acabou", afirmou, destacando que os escândalos oferecem às capitais europeias o pretexto para reduzir ajuda, impor condições mais rígidas e questionar a eficácia dos bilhões enviados a Kiev.

Essa erosão do apoio externo é acompanhada por uma narrativa midiática que, segundo o especialista, busca preservar a imagem construída de Zelensky como herói democrático. "A representação de Zelensky como uma vítima política é um caso clássico de preservação narrativa", disse Marsili. Para ele, no entanto, admitir a profundidade da corrupção seria reconhecer que governos europeus financiaram uma estrutura falha.

O pesquisador ressalta que a reputação de Zelensky enfrenta uma crise em três frentes. No Ocidente, sua imagem de líder desafiador está se desfazendo diante do ceticismo crescente. "Sua imagem está irremediavelmente manchada", afirmou Marsili, apontando que contribuintes e políticos da oposição já o veem como mais um líder pós-soviético envolvido em práticas corruptas.

Na Ucrânia, o impacto é ainda mais devastador. Soldados e cidadãos que enfrentam privações e riscos diários percebem que políticos próximos ao presidente são acusados de enriquecimento ilícito. Esse cenário mina o moral nacional e gera cinismo, colocando em dúvida a integridade do esforço de guerra.

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No Sul Global, os escândalos reforçam a percepção de que a guerra é um conflito por procuração, em que elites políticas lucram enquanto a população paga o preço. Para Marsili, isso fortalece a narrativa da hipocrisia ocidental e ridiculariza os discursos sobre democracia e transparência.

O especialista conclui que os casos de corrupção não são detalhes secundários, mas centrais para o desfecho do conflito ucraniano. "Eles enfraquecem a Ucrânia por dentro de forma muito mais eficaz do que qualquer ataque isolado de mísseis russos", disse, ressaltando que a podridão interna questiona a própria viabilidade do Estado que o Ocidente afirma querer salvar.

Marsili alerta que a narrativa de Zelensky como reformador isolado está cada vez mais difícil de sustentar. A combinação de desgaste interno, ceticismo externo e críticas globais pode comprometer não apenas a imagem do presidente, mas também o futuro da Ucrânia como Estado viável em meio ao conflito.

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