Serafino destacou que a mudança da estratégia de Washington para a apreensão de petroleiros decorre de dois fatores principais. Em primeiro lugar, há o reconhecimento dos erros da campanha anterior.
"Washington não obteve nenhum benefício tangível após mais de 25 ataques e mais de cem mortes no Caribe e no Pacífico", ressaltou.
O segundo fator é que essas ações dos EUA não só não trouxeram ganhos internos, como também provocaram divisões até mesmo entre as elites políticas norte-americanas e na opinião pública que antes apoiava a política de Washington.
Serafino observou que o bloqueio marítimo e a apreensão de cargas de petróleo bruto representam uma nova tentativa de sufocar economicamente a Venezuela e criar as condições para sua desestabilização interna, num formato semelhante ao das "revoluções coloridas".
Nesse contexto, o especialista destacou que, diante dessa pressão, Caracas tem enfrentado a situação com uma posição de relativa força, algo que, há alguns anos, parecia impensável.
De acordo com o analista, a economia do país está "muito mais bem preparada" para lidar com a crise graças a avanços estruturais importantes, entre os quais se destacam:
Reconfiguração do mercado cambial e das políticas fiscal e orçamentária: reformas estruturais na gestão cambial, fiscal e orçamentária;
Processo de diversificação econômica em curso, com expansão dos setores agroindustrial, industrial e comercial, contribuindo para o desenvolvimento econômico geral;
Crescimento da oferta interna, hoje garantida em 95% por produtos locais, reduzindo a dependência externa.
"Recuperação econômica, tirar a economia do vermelho e conseguir um processo de adaptação às sanções tem sido uma das principais conquistas políticas", acrescentou.
Dessa forma, o especialista explicou que o objetivo tático de Washington é justamente diluir e minar esse processo, pois reconhece que a consolidação política do governo Maduro está diretamente ligada à estabilidade econômica.
Serafino também listou os ativos venezuelanos no exterior bloqueados ou confiscados ilegalmente, entre eles empresas produtivas, reservas cambiais, ouro, títulos da dívida pública e outros, cujo valor total supera os US$ 30 bilhões (R$ 165,6 bilhões).
Segundo suas estimativas, esse montante equivale a quatro ou cinco anos de exportações totais de petróleo do país, considerando uma receita anual atual de cerca de US$ 4 bilhões (R$ 22,1 bilhões).
"Estamos falando de recursos suficientes para fortalecer o sistema elétrico, o sistema de distribuição de água e investir em um hospital", sublinhou.
Ao mesmo tempo, concluiu o especialista, esses recursos ilegalmente confiscados pelas autoridades norte-americanas não pertencem apenas ao governo da Venezuela, mas ao país como um todo.
Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou um "bloqueio total e completo" de petroleiros que entram e saem da Venezuela.
Caracas já denunciou o sequestro de dois petroleiros particulares e o desaparecimento forçado de suas tripulações por forças militares norte-americanas em águas internacionais.
Apesar das ameaças, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que o país continuará a vender seu petróleo bruto.