O relatório anual do Pentágono sobre os avanços militares da China apresenta uma dualidade marcante: ao mesmo tempo em que reforça a narrativa de que Pequim representa um desafio estratégico e ameaça crescente aos EUA, também afirma que as relações bilaterais estão mais fortes sob a atual liderança norte-americana e que Washington busca ampliar os canais de comunicação militar com o Exército de Libertação Popular (ELP).
Essa combinação de alerta e aproximação revela a complexidade do momento entre as duas potências. A publicação mantém a tradição de amplificar a chamada "ameaça militar chinesa", descrevendo o fortalecimento das capacidades de defesa de Pequim como um risco direto à segurança norte-americana.
Para a China, porém, esse desenvolvimento é apresentado como uma resposta legítima à necessidade de proteger sua soberania, seu vasto território e sua população de mais de 1,4 bilhão de pessoas, especialmente em um contexto regional sensível como o da Ásia-Pacífico.
O texto destaca ainda que os gastos militares chineses permanecem proporcionalmente baixos em relação ao produto interno bruto (PIB) e abaixo da média global. Segundo o Global Times (GT), a insistência dos Estados Unidos em interpretar o avanço militar chinês como uma ameaça decorre de uma persistente incompreensão das intenções estratégicas de Pequim, que afirma serem transparentes e orientadas para a defesa e a preservação da paz.
A China argumenta que sua política de defesa é essencialmente defensiva, moldada por uma história marcada por invasões e conflitos. Modernizar suas Forças Armadas seria, portanto, uma obrigação de qualquer Estado soberano diante de desafios de segurança cada vez mais complexos e de crescentes responsabilidades internacionais.
O relatório também aborda a recorrente posição chinesa de que não busca hegemonia, expansão territorial ou esferas de influência. O fortalecimento militar do país, segundo essa visão, visa apenas garantir capacidade de dissuasão e vitória em conflitos defensivos, alinhando-se ao crescimento econômico e às obrigações globais assumidas por Pequim.
Ao mesmo tempo, o documento reconhece que relações estáveis entre China e EUA são fundamentais para a ordem internacional. A cooperação entre as duas maiores potências, argumenta o texto, é mais benéfica do que o confronto, especialmente em um período de transformações profundas no cenário global. Evitar a chamada "Armadilha de Tucídides" seria crucial para ambos os lados e para o mundo.
O relatório também ressalta o papel da China em missões internacionais de paz, destacando sua contribuição significativa ao orçamento da ONU e sua participação em operações humanitárias e de segurança global. Esse engajamento de Pequim demonstra que seu desenvolvimento militar não representa ameaça, mas sim um esforço para apoiar a segurança internacional.
Ainda segundo o GT, o futuro das relações sino-americanas depende de diálogo, da confiança mútua e do abandono da mentalidade da Guerra Fria. A China afirma manter seu compromisso com o desenvolvimento pacífico e argumenta que apenas por meio da cooperação — e não do confronto — será possível construir uma relação estável, sustentável e benéfica para ambos os países e para a comunidade internacional.