Líderes mundiais vão se reunir em Nova York para a Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta semana, para discutir política e muito mais.
Assim como no ano passado, a cúpula dará a oportunidade de corrigir ou mostrar mais uma vez, no pior dos casos, as relações tensas e, em alguns casos, quase inexistentes entre países.
Importância da Assembleia Geral
A Assembleia Geral como é frequentemente abreviada é o parlamento do mundo e o lugar de maior destaque para o debate internacional. É o principal órgão de formulação de políticas das Nações Unidas, representando todos os seus 193 países-membros.
As decisões da Assembleia não têm força juridicamente vinculativa para os governos, mas têm o peso e a autoridade moral da comunidade internacional.
A 74ª sessão da Assembleia foi aberta em 17 de setembro e seu evento mais significativo é o debate geral. Apesar do seu nome, não se trata tanto de debater. No debate geral, presidentes, primeiros-ministros e reis discutem questões globais e esboçam suas políticas e propostas. O debate terá início na terça-feira (24).
Numerosas reuniões
Nesta semana haverá numerosas reuniões à margem da Assembleia Geral e quem se reúne com quem é importante, bem como reuniões sobre clima, cobertura universal de saúde, desenvolvimento sustentável, eliminação de armas nucleares e pequenos países insulares em desenvolvimento.
Para discutir e abordar os impactos do aquecimento global e outras questões ambientais, a ONU realizará uma cúpula de ação climática nesta segunda-feira (23).
Cerca de 60 chefes de Estado planejam falar lá; a jovem ativista sueca Greta Thunberg, que inspirou protestos globais de centenas de milhares de pessoas na semana passada, também estará presente.
Donald Trump não participará da reunião climática. Ao invés de falar sobre clima, Trump presidirá uma reunião sobre liberdade religiosa no mesmo edifício.
O presidente dos EUA tem demonstrado até agora muito pouco interesse em enfrentar a crise climática e retirou seu país do Acordo de Paris de 2015.
Série de discursos
Cada país-membro tem 15 minutos para falar, embora possam ir além desse limite. A série de discursos leva dias para ser concluída, e a maior parte do foco está nos primeiros dias da cúpula, quando os maiores jogadores sobem ao pódio. Em conformidade com uma longa tradição, o Brasil vai falar primeiro. Será seguido pelos EUA, país anfitrião.
O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, também falará no primeiro dia, seguido pelo presidente sul-coreano Moon Jae-in, pelo presidente mexicano Andrés Manuel Lopez Obrador e pelo presidente francês Emmanuel Macron.
Outros oradores, ainda nesse dia, incluem os líderes da Jordânia, Marrocos, Argélia e Reino Unido. A Rússia deverá falar na sexta-feira (27), juntamente com a China.
Tijjani Muhammad-Bande, enviado da Nigéria, presidirá à 74ª sessão. Ele vai manter a posição por um ano, e decidiu o tema desta sessão: "Galvanizar os esforços multilaterais para a erradicação da pobreza, educação de qualidade, ação climática e inclusão."
Quem ignorará a Assembleia?
Este ano será marcado por várias não comparências significativas: Vladimir Putin e Xi Jinping, os respectivos presidentes da Rússia e da China, não são esperados.
Nem o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que está lutando com o impasse político após uma eleição geral inconclusiva.
O presidente venezuelano Nicolás Maduro também é muito improvável de comparecer, já que os Estados Unidos e uma série de nações ocidentais e latino-americanas endossaram seu rival, o autoproclamado presidente Juan Guaidó.
Embora as Nações Unidas não tenham oficialmente reconhecido Guaidó, ele está considerando participar do debate, mas o secretário-geral da ONU, António Guterres, descartou a possibilidade de se reunir com ele.
O que procurar nesta semana?
Três anos da política "América Primeiro" de Donald Trump geraram muita controvérsia no cenário global, e os Estados Unidos estiveram envolvidos em várias crises.
Uma das maiores é o impasse com o Irã, e uma grande questão é se Trump vai se encontrar com o presidente iraniano Hassan Rouhani.
A possibilidade de reunião entre EUA e Irã já foi discutida, mas os recentes ataques às refinarias sauditas tornaram altamente improváveis conversações entre Trump e Rouhani.
Tanto Washington como Riad culpam Teerã pelos ataques, embora os rebeldes iemenitas Houthis tenham reivindicado a responsabilidade e Teerã tenha negado qualquer participação. No fim de semana, veio à tona que Estados Unidos recusaram vistos a vários membros da delegação iraniana.
Trump ou seus aliados no golfo poderiam tentar convencer outros líderes mundiais a ajudá-los a construir uma coalizão contra o Irã, uma vez que os EUA vão destacar forças militares para o Oriente Médio após os últimos ataques com drones.
O presidente do Irã, Hassan Rouhani, em resposta, revelará um plano de cooperação regional chamado Coalizão da Esperança; ele deixou claro que a proposta excluirá os EUA, o que provavelmente a tornará inaceitável para os aliados regionais dos EUA e rivais do Irã como a Arábia Saudita e os EAU.
Trump também se reunirá com o novo presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky. O presidente dos EUA está enfrentando acusações de ter pressionado Zelensky para investigar o filho de seu potencial rival nas eleições de 2020, Joe Biden, sob o pretexto de uma repressão à corrupção.
Nações asiáticas em discussão
Um ponto central da agenda desta semana será provavelmente a península coreana. As negociações nucleares entre Trump e Kim estagnaram, enquanto nem os EUA nem as Nações Unidas parecem estar planejando cancelar ou aliviar as sanções contra a Coreia do Norte.
Ao mesmo tempo, não se espera que o Japão e a Coreia do Sul, duas nações vizinhas que têm preocupações sobre o Norte, se encontrem.
A Coreia do Sul eliminou recentemente os laços de inteligência com o Japão como parte de uma discussão mais ampla sobre comércio e história da guerra.
A agenda da cúpula incluirá também a fricção geopolítica entre os Estados Unidos e a China, que gira em torno da batalha comercial e tarifária de um ano e de acusações mútuas de ingerência nos assuntos internos.