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Turismo indígena: entre economia e ecologia

© Sputnik / Igor Mikhalev / Acessar o banco de imagensÍndio da tribo ianomâmis
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Os países do mundo têm uma enorme parte dos seus territórios ocupada por indígenas que conservam sua língua e parte de suas tradições. Estes territórios têm um grande potencial turístico.

As duas ofertas essenciais para os visitantes são, primeiro, a natureza no seu estado mais puro e menos atingido pela civilização e um ambiente cultural e social diferente.

Turismo indígena no Brasil

Para o indígena brasileiro, a natureza é parte indispensável da realidade e da vida. São a floresta e os rios que dão vida, então a lógica é simples: é preciso conservar a floresta e os rios, evitando o desmatamento e a construção exagerada. Para a sociedade industrializada, é diferente. Basta lembrar Belo Monte e outros exemplos de confrontação expressa e por vezes violenta dos dois pontos de vista, o “ecológico” e o “econômico”.

Por isso, passeando por um território indígena, você passeia também por um parque natural. Só tem que ter em conta uma coisa muito importante: os habitantes deste “parque” são pessoas como nós, e não objetos de exibição.

De acordo com o Ministério do Turismo do Brasil, contatado pela Voz da Rússia, as comunidades indígenas do Brasil “têm autonomia para explorar o turismo em seus territórios, sob o monitoramento da Fundação Nacional do Índio (FUNAI)”.

O regulamento, organização e desenvolvimento das atividades turísticas em terras indígenas será realizado futuramente por um Grupo de Trabalho Interministerial, que acaba de ser criado por meio da publicação no Diário Oficial da União com a participação dos ministérios do Turismo e da Justiça e pela FUNAI. Os turistas que desejam conhecer esses territórios devem se preparar, se informando sobre a cultura indígena local, para modificar as regras de conduta.

Fronteiras artificiais e renascimento sulista

Povos indígenas não reconhecem fronteiras artificiais. Segundo o secretário-geral da OTCA, Robby Ramlakhan, citado no site da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), “têm direito de cruzar a fronteira sem passaporte, sem vacinação”. Por isso, afirma ele, é precisa uma “abordagem regional”, ou seja, internacional.

Nisso, Ramlakhan coincide com a presidente da FUNAI, que apela para um reforço da cooperação internacional virada para prestar mais atenção aos territórios indígenas transfronteiriços. A presidente Maria Augusta Assuriti também quer que a questão indígena não seja um assunto da Amazônia Legal, mas que seja um assunto de importância nacional.

Os indígenas recentemente contatados são um assunto muito importante para a América Latina. No Paraguai, os guaranis têm sua língua reconhecida como oficial, na Bolívia, todas as 37 línguas indígenas, além do espanhol, têm estatuto oficial.

A Bolívia, cuja história é relacionada a grandes impérios pré-colombianos, é forte no seu movimento indigenista estatal, com a sua ousada simbologia política e social. É só lembrar o “Relógio do Sul”. Existe certa lógica nisso.

Foram os europeus que primeiro conheceram o atual hemisfério oriental, expandindo-se para o ocidental, que até agora é chamado de Novo Mundo. Lá, ou aqui, espalharam as suas línguas, que deveriam prolongar os correspondentes impérios. Os impérios cessaram, as línguas misturaram com as locais, e agora é que advém em vários países a nova época de indigenismo, que busca procurar a identidade latino-americana.

Se a cultura indígena amazônica é mais ligada principalmente à natureza, os territórios da região andina tiveram grandes impérios que deixaram construções e outros objetos refinados que atraem turistas mundiais. Um exemplo disso são os Qhapaq Ñan, Caminhos Incas, que abrangem vários países, incluindo o Peru e o Equador.

Turismo indígena emergente na Rússia: expectativas e receios

Turismo indígena não é só na América Latina. Na Rússia também existe potencial de turismo cultural. Segundo Mikhail Prisyazhny, presidente do departamento de Estudos do Norte da Universidade Federal do Nordeste Russo, “o fomento do turismo etnológico em territórios indígenas do Norte russo pode atrair a atenção pública à cultura indígena e tradições dos povos do Norte russo e criará a base social e econômica para o seu desenvolvimento no futuro”.

De acordo com o cientista, uma das maiores ameaças às tradições dos povos indígenas do Norte da Rússia é a exploração industrial dos territórios correspondentes, especialmente na época soviética. Isso “levou à redução dos tipos tradicionais de agricultura e artesanato, e depois também à perda da cultura, língua, tradições e ritos indígenas”. Mas nos últimos anos, a situação está mudando para o melhor, ressalta Prisyazhny. Agora, “a exploração industrial do Norte é realizado sem deixar de ter em conta as questões de preservação da ecologia e do meio ambiente, e também peritagem etnológica é feita antes da exploração”, sublinha ele.

Peritagem, ou seja, exame das consequências que uma atividade industrial pode acarretar para os indígenas que habitam o território, é importante. Já agora, o cotidiano dos indígenas do Norte russo difere-se muito do que foi antes. Segundo o perito, “mais de metade dos povos indígenas do Norte russo são já sedentários, em vez de nômades, e moram em povoados”. No entanto, “a cultura e a língua dos povos do Norte são ligadas estreitamente ao modo de vida nômade e seminômade, à criação de renas. Os povos que preservaram a cultura da criação de renas, preservaram o modo de vida tradicional e a cultura tradicional. São os nenets, os khanty, os evens, os chukchis e outros povos do Ártico”, comenta Prisyazhny.

A Rússia começa a desenvolver o seu potencial turístico. Surgem programas federais de desenvolvimento do setor e projetos locais que visam apoiar, através de atividades turísticas, a economia e os moradores locais. Por exemplo, no Altai um projeto conjunto de “turismo verde” do Fundo de Natureza Selvagem (WWF) e o fundo Citi está vigente desde 2011.

Elena Repetunova, coordenadora do projeto, compartilha o receio “eco”. De uma parte, há o aspecto econômico: turismo atrai fundos para a região, que desta maneira recebe verbas para fomento futuro. De outra parte, há o aspecto ecológico.

“Eu não gostaria que o Altai tivesse muitos turistas. Eu amo muito o Altai”, afirma Repetunova. O receio dela é compreensível, visto o modelo de conduta que uma parte dos turistas do mundo todo demonstra:

“Há uma categoria de turistas que nos visita para “brincar”. Música, álcool e consequências correspondentes. Porém, há muitos que compreendem a particularidade e a beleza deste território. Eles chegam cá para se deleitarem na união com a natureza, visitar lugares únicos, encontrar gente maravilhosa que são os moradores locais. Por isso, se você vai no distrito de Chemal (perto do centro da república do Altai), é uma opção. Já se você vai mais para lá, até o fim da rodovia de Chuya, na fronteira com a Mongólia, é turismo diferente e você tem que ter outra percepção da sua viagem”.

Para os cidadãos de um país, os indígenas que conservam as tradições e o modo de viver antigo são algo exótico. Seja os indígenas do Brasil (leia-se da América Latina), seja os povos indígenas da Sibéria e do Norte da Rússia. E o objetivo do turismo, muitas vezes, é exatamente este: se aproximar de uma cultura distinta, exótica, para fugir do cotidiano e, no melhor caso, aprender algo que ajudaria a melhorar a sua própria vida e a sociedade em que vive o turista.

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