É de notar que o formato das conversações entre o Grupo 5+1, como é referido às vezes o sexteto, e o Irã não contempla debate sobre o programa de mísseis do Irã. Portanto, todas as especulações em torno de incluir este tema na agenda apenas perturbam a atmosfera do processo de negociação. No entanto, o empenho iraniano, justificado neste caso, em refrear os diplomatas ocidentais desejosos de pôr o tópico na mesa de negociação do sexteto não desvirtua o problema em si, já que o potencial de mísseis iraniano vem, indubitavelmente, crescendo nos últimos anos.
Presentemente, o setor de construção de mísseis, componente do complexo militar-industrial do Irã, é estimado como um dos maiores e mais desenvolvidos do Oriente Médio, embora com capacidade ainda inferior ao de Israel, Turquia e, em certa medida, Paquistão.
De acordo com Vladimir Evseev, cientista político russo versado em matéria militar:
"Uma das diretrizes do projeto de mísseis iraniano é o desenvolvimento e fabrico de mísseis táticos e operacionais-táticos. Neste segmento, são produzidos numerosos sistemas, cujo alcance varia de 25 a 800 km. Estes mísseis não podem ser utilizados para levar armas nucleares.
"Atualmente, o setor de mísseis iraniano está focado principalmente em trabalhos de pesquisa e desenvolvimento no âmbito do programa Shahab, que abrange um número de mísseis com nomes oficiais diferentes. Trata-se dos mísseis Ghadr 110, de combustível líquido e sólido (alcance de 2.000 a 3.000 km), Iran (2.100 km), Fajr 3 (2.500 km), Ashura (de 2.000 a 2.500 km) e Sajjil (de 2,000 a 2.500 km)".
Em particular, os especialistas iranianos usaram um desses mísseis, com o nome de Safir, para colocar em órbita, no dia 3 de fevereiro de 2009, em homenagem ao 30º aniversário da Revolução Islâmica, o primeiro satélite de sua própria produção, o Omid, com 27 quilos de peso. Depois se seguiram outros lançamentos bem-sucedidos. O mais recente, do satélite Fajr, foi efetuado com êxito pelo mesmo portador Safir em 2 de fevereiro do ano em curso. Até março de 2016, o Irã programa colocar em órbita mais três novos satélites.
Apenas um traço: o fato de pôr um satélite em órbita é, em si, um grande passo rumo à criação de mísseis estratégicos de longo alcance. De acordo com especialistas, tais desenvolvimentos ajudarão o Irã a construir no futuro seus próprios veículos portadores capazes de não só lançar satélites espaciais pesados mas também garantir a capacidade de disparar contra alvos a distâncias entre cinco e seis mil quilômetros.
Não obstante, deve-se ter presente que, por exemplo, a mídia e as fontes oficiais israelenses exageram muitas vezes os esforços iranianos na edificação do potencial nuclear e balístico, tanto em termos de possibilidades da República Islâmica como em ritmos de execução dos programas. Por um lado, a preocupação de Israel é perfeitamente compreensível, mas, por outro, ao tomar tal forma, afasta de avaliações objetivas da situação atual.
Por sua parte, as autoridades iranianas aproveitam as cortinas de fumo propagandísticas, tentando ora engrandecer as suas realizações nucleares e balísticas, ora encobri-las com um véu de secretismo. Enquanto isso, o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), com sede em Londres, acredita que o Irã vai precisar de quase 10 anos para criar mísseis de combustível sólido e alcance médio de uns 5.000 km e um outro tanto para fazer um míssil balístico intercontinental estratégico.
No entanto, a despeito disso, é correto concluir que, apesar de todas as dificuldades e contratempos, o Irã possui um elevado potencial no ramo de construção de mísseis. E que, além disso, Teerã passo a passo transforma com sucesso esse potencial em poder de combate real.
Por conseguinte, mesmo uma breve análise da situação no setor de mísseis iraniano revela que Teerã logrou formar um arsenal diversificado e extenso de mísseis.
Já hoje em dia, os mísseis iranianos permitem que a liderança político-militar da República Islâmica controle a região do Oriente Médio, incluindo Israel, assim como a Ásia Central. Tropas de mísseis iranianas representam uma ameaça para as Forças Armadas dos EUA e dos seus aliados estacionadas na região. Elas são capazes de controlar não só as bases militares na região mas também os núcleos industriais, sobretudo, instalações de campos petrolíferos e gasíferos e infraestruturas de petróleo e de gás em geral.
A enorme atenção com que os EUA seguem a questão de mísseis iranianos deve-se a dois fatores. Em primeiro lugar, os estadunidenses estão preocupados com o fato de os mísseis balísticos de longo alcance serem destinados exclusivamente a portar armas de destruição em massa. Em qualquer outro caso (por exemplo, portando explosivo convencional ou munições de fragmentação, etc.), o uso desses mísseis, do ponto de vista militar, é absolutamente ineficaz e absurdo em geral. Em segundo lugar, o programa de mísseis iraniano serve de pretexto propagandístico para a implantação global do sistema de defesa antimísseis norte-americano.
Voltando, aliás, à tentativas de incluir o tópico de mísseis, que é de real importância, na agenda das negociações entre o Irã e o sexteto, é um caminho errado e perigoso que conduz a um impasse fatal de todo o processo de negociação. O tema de mísseis deverá ser abordado em outras negociações, sob um formato diferente e com a participação de todos ou quase todos os países da região, senão do mundo inteiro.