John Kiriakou, 51, permaneceu no local de detenção federal Loretto, no estado de Pensilvânia, desde finais de janeiro de 2013 até 3 de fevereiro do ano em curso. Ele passará os seis meses restantes da sua condena em Arlington, estado de Virgínia.
Kiriakou, que afirma ter liderado diversas operações da CIA no Paquistão, foi acusado de ter violado repetidas vezes o Ato de Espionagem (Espionage Act) e o Ato de Proteção de Identidades Relacionadas à Inteligência (IIPA, pela sigla em inglês) ao transmitir a jornalistas informações classificadas, incluindo nomes de pessoas que trabalhavam na CIA e descrições de atividades secretas.
Estas atividades, também classificadas, incluíram tortura.
Mas tortura estava sendo escondida pelo sistema interno da CIA dos seus próprios empregados, diz Kiriakou:
"Eles diziam-nos que afogamento simulado funcionava, que isto não era tortura, que nós estávamos obtendo informações de inteligência. Eu acreditava nisso. Todos nós acreditávamos nisso".
Afogamento simulado, ou waterboarding, em inglês, é um tipo de tortura quando uma pessoa é colocada de costas e imobilizada, com a cabeça inclinada para trás e água é lançada sobre o rosto, junto do nariz e boca, para fazer o interrogado acreditar que a sua morte é iminente. É considerado tortura, mas foi usado pela CIA para "obter informações".
Depois veio a compreensão, confessa Kiriakou: "Afogamento simulado foi uma coisa terrível. Não era bom para o país. Aquilo não era uma política boa. Foi um erro desde o início".
Mas quando informações sobre a tortura vazaram para a mídia e se fizeram públicas, a administração presidencial estadunidense culpou a própria CIA pelo excesso da brutalidade. E isso, segundo John Kiriakou, também não foi justo:
"Como uma pessoa que serviu na CIA com fé e patriotismo, eu fiquei zangado pela maneira de dizer da Casa Branca", já que "não só a CIA torturava prisioneiros, senão que a tortura foi ordenada pelo presidente e foi uma política oficial dos EUA".
O ex-agente da CIA também informou que o Estado norte-americano carece de proteção dos denunciadores. É por isso que Kiriakou dirigiu-se diretamente à imprensa, sem usar canais internos ou informar membros do Congresso. Esses canais estavam fechados, afirmou ele:
"Digamos assim: você vê tortura sendo realizada e você vai ao seu supervisor para lhe informar; mas ele é parte do programa de tortura. Você vai ao superior dele, mas ele é quem ordenou o programa de tortura. Você vai ao conselheiro geral, e foi ele quem aprovou o programa de tortura. Você vai aos comitês; eles foram informados sobre o programa de tortura e não objetaram. Agora, onde você vai? Não resta nenhum outro lugar, senão a imprensa".
Resumindo, John Kiriakou ressaltou que "o governo dos Estados Unidos usa o Ato de Espionagem como um martelo" para punir pessoas que não concordam com a política de inteligência nacional.