Esta segunda-feira, os tripulantes russos da Estação Espacial Internacional (EEI) surpreenderam o Centro de Controle da Missão, pedindo que na próxima remessa de alimentos lhes enviem, em vez dos limões e tomates, 15 embalagens de maionese. Aliás, o pedido em si não é muito incomum, visto que os cosmonautas e os astronautas passam geralmente meses a fio no espaço, tendo uma sua ração restrita a apenas alguns alimentos que eles procuram variar e alterar o máximo possível nas suas refeições.
Em 1965, John Young, o astronauta norte-americano que mais tarde voaria à Lua, desafiou os protocolos de segurança, comendo um sanduíche de carne enlatada que tinha contrabandeado para a órbita. Em novembro de 2014, a astronauta italiana Samantha Cristoforetti conseguiu trazer para a EEI uma máquina de café espresso.
No entanto, ninguém tem sido capaz de bater o recorde do astronauta canadense Chris Hadfield. Ele organizou a bordo da EEI uma verdadeira cozinha espacial, onde preparava burritos, gourmet pasta e tudo quanto podia cozinhar com as suas próprias mãos, assessorado por Adam e Jamie de "Os Caçadores de Mitos", ajudando-o a partir de Houston.
Álcool: prazer proibido ou necessidade benéfica no espaço?
Acaloradas discussões não se amainam em torno do tema de "farras" em órbita. Um dos principais pesquisadores do Instituto de Problemas Biomédicos, que na década de 1980 participara do programa de preparação de cosmonautas para a missão na estação espacial Salyut 7, confidenciou ao Rossiyskaya Gazeta em 2007 que havia uma convenção tácita e extraoficial de fornecer aos membros da missão uma embalagem de "molho especial", para que esses pudessem relaxar a "pressão psicológica" que se acumula quando três pessoas passam meses seguidos confinados em um habitáculo de dimensões reduzidas.
O cosmonauta Georgy Grechko comprovou a história:
"Sim, tivemos brandy no espaço. Na altura, a decisão de permitir ou proibir o envio de brandy para o espaço foi discutida mesmo ao mais alto nível do Ministério da Saúde… O acadêmico Gazenko disse então: ‘Em órbita, as pessoas encontram-se em estado emocional muito crítico. Eu apoio que antes de dormir os rapazes vão tomar cinco ou sete mililitros de brandy’… Ora bem, nós tivemos a bordo um tubo com 125 ml de brendy, mas rotulado como café".
O cosmonauta Aleksandr Serebrov, detentor do recorde mundial de tempo em passeatas espaciais, cuja permanência no espaço totaliza mais de 373 dias, 113 dos quais ele passou em 1982 na Salyut 7, disse em 2000 ao Novaya Gazeta que, além de desempenhar um papel benéfico para aliviar tensões pessoais, o álcool contribui para a neutralização de nucleotídeos originados pela radiação espacial prejudicial:
"Trinta mililitros, isso faz bem. Na ausência de gravidade, os vasos sanguíneos se dilatam, aumentando o fluxo de sangue para o cérebro. Portanto, 40 ml já produziriam um efeito igual ao após 100 ml bebidos na Terra".
Embora os Estados Unidos fossem pioneiros, trazendo xerez ao espaço durante a missão Skylab em 1971, os astronautas norte-americanos foram muito mais formais em relação aos seus colegas soviéticos. Quando em 1985 o astronauta francês Patrick Baudry introduziu sorrateiramente uma garrafa de vinho na Space Shuttle Discovery, o comandante da missão, Daniel Brandenstein, alegadamente proibiu desarrolhá-la. Em 2007, a NASA publicou uma relação de seus protocolos pré-voo, em que revelou ter descoberto pelo menos em duas ocasiões que os astronautas haviam bebido antes da missão.