A singularidade destas usinas nucleares é evidente. Ao usar a tecnologia mais inovadora, que possibilita criar as fontes de energia mais limpas e eficientes, os projetos russos definem a tendência no âmbito da energia mundial, acreditam especialistas norte-americanos.
Não obstante, vale a pena analisar mais detidamente as causas que predeterminaram essa avaliação tão alta por parte dos EUA. E por que razão eles começaram a falar do caráter singular do projeto de Bushehr precisamente agora, quando a situação internacional em torno do programa nuclear iraniano atingiu um alto grau de incandescência?
A agência de notícias Sputnik dirigiu estas perguntas a Hamid Reza Azizi, pesquisador do Centro de Estudos Eurasiáticos da Universidade de Teerã. Eis o que disse o entrevistado:
"Eu acho que a causa da atenção tão especial a esta questão radica, antes de mais nada, nas relações entre a Rússia e o Ocidente, agravadas pelas grandes diferenças entre as duas partes sobre a crise ucraniana.
"Os EUA e outros países ocidentais estão acompanhando com muita atenção a expansão da influência geopolítica da Rússia, inclusive mediante exportações de alta tecnologia. A Rússia procura desta forma estabelecer-se o mais firme possível no continente asiático, seja no Irã, na Índia ou no Sul da Ásia.
"Portanto, esses projetos russos de construção de usinas nucleares não podem deixar de chamar a atenção do Ocidente. A revista Power Engineering como se sinalizasse: vejam bem, a Rússia não está parada".
A usina nuclear de Bushehr não tem análogos no mundo. Foi a empresa alemã Kraftwerk Union AG que começou a construí-la em 1974. No entanto, as obras foram interrompidas após os EUA terem imposto sanções ao Irã. Já em agosto de 1992, a Federação da Rússia e o Irã assinaram um acordo intergovernamental para a edificação dessa usina nuclear, e em janeiro de 1995 fecharam um contrato para a conclusão da sua primeira unidade geradora.
A parte russa conseguiu "inscrever" seu equipamento tecnológico nas estruturas erguidas de acordo com o projeto alemão, usando também cerca de 12 mil toneladas de maquinaria alemã já fornecida. A primeira unidade da Bushehr foi ligada à rede nacional do Irã em setembro de 2011; o início da sua operação comercial está previsto para 2015.
O contrato entre a Rússia e o Irã sobre a construção das seguintes unidades geradoras da usina nuclear de Bushehr está ainda por ser implementado. A experiência de cooperação entre a Rússia e o Irã nesta área vai ajudar a realizar o projeto no prazo previsto, está certo Hamid Reza Azizi:
"Este mês, temos presenciado o Irã e a Rússia expressarem uma vontade comum de aprofundar a sua parceria tanto no domínio de energia nuclear como na esfera de comércio e economia. Por isso, atrevo-me a supor que consigamos evitar as dificuldades inerentes à construção da primeira unidade, implicadas pelas sanções contra o Irã. Ambas as partes estarão empenhadas em concluir com êxito o projeto e entregar a segunda unidade à operação nos prazos pré-estabelecidos".
O especialista iraniano destacou também que a construção da segunda unidade da usina nuclear de Bushehr poderá ser ainda mais bem sucedida do que a do primeiro reator:
"Deve-se ressaltar que um dos lineamentos fundamentais da política externa da Rússia (bem como de algumas outras potências) prevê o desenvolvimento e fortalecimento da cooperação com distintos países no domínio das tecnologias mais sofisticadas, incluindo o setor da engenharia nuclear para fins pacíficos. Se repararmos na posição geopolítica estratégica do Irã na região, podemos dizer que, para a Rússia, a cooperação com um parceiro como o Irã é uma espécie de marca.
"Este projeto é muito importante para a Rússia. É regido pela fórmula: quanto maior a qualidade de execução, maior o nível de prestígio da Rússia na arena política internacional. Portanto, deve-se esperar que a qualidade de construção do segundo reator não vá ceder em nada à do primeiro, mas, pelo contrário, seja ainda mais bem sucedida".