De acordo com o cientista e coordenador dos estudos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Elíbio Rech, a pesquisa iniciada em 2005 se baseia na introdução da cianovirina, uma proteína presente em algas e que é capaz de impedir a multiplicação do vírus HIV no corpo humano, em sementes de soja geneticamente modificadas para a produção em larga escala.“Essa proteína foi isolada de uma alga-verde-azul (Nostoc ellipsosporum) presente no oceano. Ela se liga ao vírus do HIV e impede essa replicação no corpo humano.”
Antes do sucesso com a soja, foram realizados testes com outras das chamadas biofábricas, como plantas de tabaco (N. tabacum e N. benthamiana), bactéria (E. coli) e levedura (S. cerevisiae).
O cientista ressalta que as sementes geneticamente modificadas não vão ser plantadas no campo. Elas vão ser sempre cultivadas em condições controladas de contenção dentro de casas de vegetação ou estufas. “São estufas de plantas, onde se tem o controle para evitar que escapem para o meio ambiente, e eventualmente ocorra o cruzamento com outra soja que é plantada para fins de aplicação, como alimentação humana e animal. Nós conseguimos produzir dentro de uma estufa, uma quantidade até 10 vezes superior ao que é produzido no campo, podendo gerar assim uma grande quantidade de sementes, controlando só com a luz o crescimento da planta.”
Elíbio Rech explica que, além de inovadora, a pesquisa tem um forte componente humanitário. Países em desenvolvimento com altos índices de infestação da AIDS, como alguns da África, por exemplo, vão ter acesso à tecnologia e à licença de produção e uso interno, livre do pagamento de royalties. “É um potencial medicamento, que vai sem dúvida contribuir para reduzir e prevenir o contágio pelo HIV. A prevenção é o caminho natural da medicina do futuro.”
Dados da Embrapa apontam que a África continua sendo o continente mais afetado pela doença, com 1,1 milhão de mortos em 2013, 1,5 milhão de novas infecções e 24,7 milhões de africanos contaminados. África do Sul e Nigéria encabeçam a lista dos países mais afetados.
Na América Latina, com 1,6 milhão de soropositivos em 2014 (60% deles, homens), o país mais preocupante é o Brasil, onde o índice de novos infectados pelo vírus subiu 11% entre 2005 e 2013, tendência contrária aos números globais, que apresentaram queda no mesmo período. Na Ásia, os países que apresentam maior contaminação são Índia e Indonésia, onde as infecções aumentaram 48% desde 2005.
Elíbio Rech analisa ainda que o Brasil já possui um destaque expressivo nas áreas científica e tecnológica em relação aos países desenvolvidos, contribuindo através de muitos estudos e colaborações científicas em várias áreas do conhecimento. “É importante que se intensifique cada vez mais a participação do Brasil no ramo científico e tecnológico para manter a nossa competitividade futura no mercado mundial.”